13° de Bolsa Família, proposto por Bolsonaro, é lance político engenhoso
A campanha do Jair Bolsonaro pode até ser mambembe e caótica, mas a iniciativa de criar um 13º para o Bolsa Família é politicamente engenhosa. Bolsonaro pega um limão –as declarações de seu vice, Hamilton Mourão, questionando o 13°– e transforma em uma limonada.
“O meu vice, o general Mourão, levou uma proposta ao Paulo Guedes, que é o homem da economia. Ele propôs levar o 13º para quem ganha o Bolsa Família", disse o candidato.
A medida mira exatamente o segmento do eleitorado em que o desempenho de Bolsonaro é fraco: entre os eleitores que ganham menos de dois salários mínimos, Haddad registra 54% das intenções de voto, contra 46% de Bolsonaro (votos válidos), segundo a pesquisa Datafolha divulgada na quarta-feira. É o único segmento de renda em que o petista ganha. Da mesma maneira, Nordeste é a única região em que Haddad venceria, com 62% dos votos, contra 38% do candidato do PSL (votos válidos).
No Piauí, estado onde Haddad teve sua maior margem de vitória no primeiro turno, de 46 pontos (registrou 63,4% dos votos, contra 18,76% de Bolsonaro), 48% da população depende do Bolsa Família para viver, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social. No Maranhão, são 48%. (Haddad levou o estado com 61,2% dos votos, diante de 24,2% do Bolsonaro).
Se a proposta de Bolsonaro for disseminada por WhatsApp de forma tão eficiente como têm sido memes e vídeos (alguns falsos), será um grande problema para Haddad, que pode perder mais alguns votos tradicionalmente lulistas no Nordeste.
Haddad, nesta quinta-feira, criticou o movimento do candidato do PSL. "Se tem alguém que criticou o Bolsa Família e, de certa maneira, humilhou os beneficiários ao longo dos últimos dez anos, foi o meu adversário. Aí não é fake news, basta ver na internet as frases que ele pronuncia sobre nordestinos que recebem Bolsa Família", disse Haddad.
Agora, como notou um colega meu, essa tal da elite é mesmo engraçada. Passaram a vida dizendo que Bolsa Família é esmola para pobre e populismo. Não adiantava economistas explicarem que é um programa que custa muito pouco (menos de 1% do orçamento da União), proporcionalmente, e é muito eficiente em dar suporte aos que mais precisam, com pouco vazamento. Eles falavam que era compra de votos pelo PT.
Quando o Bolsonaro anuncia o décimo terceiro para o Bolsa Família, ouvimos um silêncio sepulcral no andar de cima.
Haddad também estaria planejando fazer uma defesa da posse de armas “nas mãos certas”, segundo revelou o Painel, como forma de atrair um eleitor de baixa renda que teria sido seduzido pelas propostas de Bolsonaro nessa área.
O candidato do PSL, em entrevista nesta quinta-feira, reagiu, dizendo que Haddad age como “um camaleão” ao buscar votos da direita.
Se o petista realmente propuser medidas que aumentem o acesso a armas, será que o eleitor de esquerda raiz também vai ficar mudo, como a elite ficou com a Bolsa Família de Bolsonaro?