55 anos do golpe militar | Ditadura usou agente infiltrado para perseguir movimento negro

Secreto por muitos anos, um outro documento do Ministério do Exército de outubro de 1979 mostra como os militares infiltraram pessoas dentro do recém-criado MNU (Movimento Negro Unificado). "O método utilizado foi a infiltração em entidades dedicadas ao estudo da cultura negra, por meio de palestras em reuniões e simpósios", informou.

A investigação espiã deixou clara uma preocupação específica com a Bahia, que estaria liderando o movimento com a temática negra no país. Da espionagem saíram nomes de líderes que deveriam ser acompanhados. Muitos deles viriam a ser presos numa tentativa de enfraquecer o movimento.

"Esta foi mais uma manifestação do MNS [Movimento Negro de Salvador], que vem elaborando uma campanha artificial contra a discriminação racial no BRASIL e, em particular, na BAHIA", diz um trecho do texto, citando um evento realizado pela organização.

"Ficou delineado que, em SALVADOR, os 'centros de luta' têm por função 'mobilizar, organizar e conscientizar a população negra nas favelas, nas invasões (de terras urbanas), nos alagados, nos conjuntos habitacionais, nas escolas, nos bairros e nos locais de trabalho, visando a formar uma consciência dos valores da raça'", completa o documento.

Há registro de que a perseguição continuou até o início de abertura política, com a entrada de João Figueiredo (1979-1985) no poder. Em documento de 7 de junho de 1981, o SNI faria um informe de "propaganda adversa" do jornal "O Trabalho". À época, a publicação abordava, entre outros pontos, que "o negro, na medida em que se organiza, passa a ser considerado um perigo".

O serviço pediu atuação para impedir a circulação. "Da análise empreendida, verifica-se que o jornal 'O TRABALHO', em seu exemplar n° 9 106, de 20 a 26 de maio de 1981, volta a infringir dispositivos que permitem o seu enquadramento legal."

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