A abstinência de Copa e o deslocamento de nosso complexo de vira-lata
Liguei o Sportv nesta quarta, final da tarde, e deparei-me com um sensacional Coritiba x Paysandu. Minha síndrome de abstinência de Copa deu um passo rumo à depressão. Para quem gosta de futebol e para quem gosta de grandes eventos que mobilizam o planeta, é difícil largar a mamadeira. Cold turkey.
Dois dias sem Copa, meu Deus, não estava preparado para isso. Esperemos que na volta, as coisas saiam bem para a seleção brasileira e a gente deixe a adição feliz, com um caneco na mão.
Mas creio que essa Copa marcou uma diferença no modo como o Brasil encara a grande disputa internacional do esporte mais popular do mundo. Do lado do futebol, muita coisa mudou, a principal delas o processo de globalização que se consolidou na Europa, onde times são multinacionais e com frequência melhores do que muitas seleções. Algumas partidas dessa Copa, em termos técnicos e competitivos, não pegavam nem Série A do Brasileirão, quem dirá Champions League.
A outra é que o nosso complexo de vira-lata já não reside mais no futebol ou não se satisfaz mais com ele. Não sublima mais. Já somos os melhores nesse troço. Reside agora na nossa incapacidade de passar de fase no campeonato social e econômico. É evidente que o Brasil nesses campos tem tudo para avançar, mas os dirigentes só atrapalham. Todos sabemos que temos condições potenciais de sair da fase de grupos. Infelizmente omos desorganizados, treinamos mal e tomamos muitos gols contra.
O que vejo é uma certa moderação ou modulação do investimento cívico de boa parte da sociedade na ideia de ganhar a Copa. O futebol vai se tornando, possivelmente, “apenas” futebol (as aspas são porque o futebol é muito rico e cheio de conexões e nunca é apenas futebol).
É bom que caminhemos nesse sentido. Mas esquecendo o resto, em se tratando de bola rolando no gramado, queremos é mais!
Foto no alto – Neymar e Coutinho na partida contra a Costa Rica, na fase grupos – Max Rossi / Reuters