A França e Macron
Há mais de 20 semanas, o governo Macron, eleito por uma imensa maioria sem apoio de qualquer partido porque prometia uma revolução, ou seja, uma nova forma de administrar a política, enfrenta, todos os sábados e domingos, protestos cada vez mais violentos.
A eleição revelou a morte do velho proletariado. A nova oposição, os “coletes amarelos” (que têm em sua liderança alguns caminhoneiros!), também não se identifica com nenhum partido. Aliás, os despreza.
Trata-se de um movimento crescente, que propõe outra mudança revolucionária na forma de fazer política.
A revolução parece ser um vício francês!
A nova é sintetizada em duas frases, “devolvam-nos as chaves” e “nem partidos nem sindicatos”, e em duas propostas de democracia direta: 1ª) através de referendos de iniciativa cidadã, chamados de RIC; e 2ª) através da escolha dos membros dos legislativos (locais, regionais, federais) aleatoriamente entre todos os cidadãos.
O ponto realmente interessante é que os “coletes amarelos” estão longe de ser o proletariado, do qual se esperava a redenção do mundo, mas é claro que suas propostas causam horror à academia que conhece, desde Platão, para onde costumam levar as tentativas de democracia direta.
Isso não parece importante diante da fantástica desmoralização das instituições políticas francesas. De acordo com o Baromêtre Cevipof, de janeiro (Alternatives Economiques, fevereiro de 2019), as porcentagens de confiança da população são estas: Forças Armadas, 74%; Justiça, 44%; mídia, 23%; e, por último, partidos políticos, 9%!
Esses números mostram por que as eleições legislativas em 2017, na França, levantaram o problema da democracia direta (que elegeu Macron).
As eleições explicitaram a desconfiança da sociedade com a sua representação política, além de pôr em debate o sistema democrático da Quinta República pensada por De Gaulle: 1º) pela escassa consulta à cidadania fora do partido eleitoral; 2º) pelo pequeno controle do Legislativo sobre as decisões políticas, todas concentradas nas mãos de um presidente armado de muito poder; 3º) pelos escândalos que envolveram não apenas alguns candidatos à Presidência, mas um número substancial de membros da Assembleia Nacional.
A ideia de que a França precisa de uma Sexta República vem crescendo desde os anos 70 do século passado. Parece que amadureceu.
Todos reconhecem que a democracia representativa está em crise, mas ninguém sabe o que pôr em seu lugar. A volta à democracia grega direta, na qual todo cidadão (mas não os escravos) podia discutir os problemas da cidade, não parece uma boa ideia.