A insurreição na Venezuela sobe alguns degraus
A Venezuela está vivendo nesta terça-feira (30) mais um capítulo da insurreição de baixa intensidade que já se fez presente em fevereiro, no dia da frustrada tentativa de fazer chegar a ajuda humanitária organizada por Juan Guaidó.
De baixa intensidade porque os insurretos, de modo geral, não estão armados. Não obstante, correm atrás das tanquetas das forças repressivas, tentando atingi-las com coquetéis Molotov.
Este novo momento é, sem dúvida, o mais crítico, o mais delicado, o mais tenso. Como disse o vice-presidente brasileiro Hamilton Mourão, só há um de dois possíveis desfechos: ou Guaidó vai preso ou Maduro foge.
A insurreição é fácil de explicar e recorro para a explicação a Felipe Pérez Martí, líder do Movimiento Libertadores, da sociedade civil, em artigo para Aporrea, a publicação digital que congrega os chavistas, dissidentes ou não do madurismo: Martí convoca a população a sair às ruas para derrubar o que chama de “ocupação delinquencial de nosso país” e acrescenta que “o desgoverno já não pode lidar com as coisas mais elementares, como a eletricidade, a água, a comida, o transporte".
Acrescente hiperinflação e hiper-recessão e tem-se um cenário em que o que surpreende não é que haja uma insurreição, mas que tenha tardado tanto para explodir.
A insurreição, que fracassou em fevereiro, na tentativa de forçar a entrada de ajuda humanitária, subiu alguns degraus nesta terça-feira, ao conseguir a colaboração do temido Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência, o serviço secreto, um dos braços repressivos) para que fosse liberado Leopoldo López, um dos mais de 700 presos políticos.
López é um preso emblemático: além de padrinho político de Guaidó, é acusado pela ditadura de ser o principal responsável pelos protestos de 2014.
É ainda o candidato mais natural à Presidência, se e quando houver eleições democráticas, se e quando Maduro cair.
Outro avanço da insurreição apareceu na edição digital do jornal El Nacional: quem teria liderado os militares dissidentes seria o general de Divisão José Adelino Ornella Ferreira, chefe do Estado Maior Conjunto do Comando Estratégico Operacional. Participou do levante militar de 1992, que catapultou à fama o então coronel Hugo Chávez.
Seria, se verdadeira a informação, o militar de mais alta patente e de mais história no chavismo a abandonar Maduro. Seria ainda um sinal forte de dissidência, reforçado pela informação de que 25 militares venezuelanos pediram asilo na embaixada brasileira em Caracas.
Fecham o ambiente insurrecional ações do governo clássicas quando lida com a rua fervendo: tirar do ar a BBC Mundo e a CNN em espanhol, para evitar a circulação de noticiários independentes, já que tem a mídia local estreitamente controlada.
Mais: o metrô de Caracas não está funcionando, os transportes tampouco, o que dificulta o comparecimento de público aos locais de manifestações convocadas por Guaidó.
O que é impossível de prever até o meio da tarde de terça é se a insurreição termina com a queda de Maduro ou a prisão do Guaidó, se estiver correta a avaliação do general Mourão.