A morte de Albán e o silêncio do PT
A morte Fernando Albán, vereador venezuelano de oposição à ditadura de Nicolás Maduro, oferece ao PT e por extensão a seu candidato presidencial, Fernando Haddad, a última oportunidade para demonstrar que ainda conserva alguma pitada de vergonha e de respeito a elementos essenciais da civilização.
Para quem não acompanhou, breve resumo: Albán foi preso ao chegar de viagem aos Estados Unidos e levado à sede do Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência), mais conhecido como centro de tortura. É o equivalente venezuelano do Doi-Codi no qual foi assassinado, entre outros, o jornalista Vladimir Herzog.
Cito Herzog porque o caso de Albán guarda semelhanças com o do jornalista brasileiro: em ambos os crimes, a versão oficial foi de suicídio. No Brasil, provou-se depois que foi assassinato, como de saída suspeitou boa parte do público.
No caso de Albán, a suspeita é a mesma. Ainda mais que a versão oficial é a de que o vereador jogou-se de uma janela do 10º andar do prédio do Sebin, quando todo o mundo em Caracas sabe que as janelas do centro de torturas ficam sempre bem fechadas.
No mínimo, o PT e Haddad têm a obrigação de fazer como o Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, que exigiu “uma investigação transparente” para esclarecer a morte.
Pedido, aliás, idêntico ao da igreja venezuelana: “Como venezuelanos estamos no direito de reclamar justiça e de que se esclareçam os fatos desta morte que enluta uma família nobre e toda a Venezuela", diz nota dos bispos.
Mas, se quiser se mostrar de fato decente, o PT e Haddad deveriam, enfim, dissociar-se de um regime ditatorial e fracassado.
Se se pendurou em um informe de um comitê de direitos humanos para exigir a libertação de Lula, deveria, por um mínimo de coerência, apoiar-se no Escritório de Direitos Humanos, muito mais representativo aliás, para condenar “as graves violações aos direitos humanos” perpetrados na Venezuela, conforme informe de junho.
O texto documenta centenas de homicídios, a violência das forças de segurança contra manifestantes, detenções arbitrárias e torturas, e lamenta a impunidade das autoridades responsáveis por tais crimes.
A ONU cita abusos também do Sebin, em cuja sede foi morto Albán.
Não dá para pedir votos contra um candidato radical como Bolsonaro sem desvincular-se de um regime que já pratica o que se teme que virá com Bolsonaro.
O silêncio, no caso Albán, é também um crime.