A negligência de Bolsonaro com a educação vai custar caro ao país
Sejamos sinceros, ninguém esperava uma boa performance do governo Jair Bolsonaro (PSL) em áreas como educação, saúde e assistência social. O desempenho, contudo, é tão sofrível que assusta.
Praticamente não temos notícias sobre o que vem ocorrendo na saúde —o que, paradoxalmente, talvez seja um bom sinal— e chamar o pagamento de 13º salário aos beneficiários do Bolsa Família de assistência social é de um populismo atroz.
Mas é a educação que mais preocupa não apenas os especialistas da área, como também economistas de forma geral e os empresários mais esclarecidos em particular. Já ouvi diversas reclamações sobre o assunto nas minhas conversas com o setor privado.
“Na verdade temos que torcer por uma estagnação na educação no país, porque a alternativa é um retrocesso, que certamente afetará a produtividade da economia”, diz Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.
Motor do avanço sustentável do Produto Interno Bruto (PIB), a produtividade é resultado não apenas do capital físico acumulado —pontes, estradas e fábricas— mas também do capital humano, que nada mais é do que mão de obra de qualidade.
Dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram a importância que o avanço da educação teve no desempenho para a produtividade da economia brasileira desde na década de 90. Foram as políticas educacionais, mantidas governo após governo, que evitaram uma tragédia ainda pior na produtividade.
Graças à universalização da educação básica, à distribuição de recursos para estados e municípios, à contrapartida de frequência escolar nos programas sociais, avançamos muito, mas ainda estamos longe do ideal. O péssimo desempenho do nossos estudantes nos exames internacionais mostra que há muito o que fazer.
O governo até está cuidando relativamente bem do avanço do capital físico, agora que as concessões finalmente começam a avançar, mas parece ignorar a importância do capital humano para a economia. Ao invés de se preocupar em melhorar o nível da educação brasileiro, prefere partir numa cruzada inútil contra o tal marxismo cultural.
À primeira vista, parece que a troca do titular do ministério da Educação não significa muita coisa, já que a principal credencial de ambos para o cargo —Ricardo Vélez, o antigo, e Abraham Weintraub, o atual— é ter a simpatia de um guru nos Estados Unidos e dos filhos de Bolsonaro.
Com um pouco de boa-vontade, podemos dizer que Weintraub nomeou uma equipe que não entende de educação, mas pelo menos sabe gerir a máquina pública, o que pode garantir o funcionamento mínimo do ministério. Tomara, porém, que não usem esses conhecimentos para emplacar as maluquices do chefe, porque, aí sim, teremos um problema ainda maior.