A novos diplomatas, Araujo diz que país 'não venderá alma' para exportar minério de ferro e soja
Em discurso na aula magna para os alunos do Instituto Rio Branco nesta segunda-feira (11), o chanceler Ernesto Araújo afirmou que o Brasil não vai vender sua alma para exportar minério de ferro e soja. A China é a maior compradora de soja e minério de ferro do Brasil.
“Nós queremos vender soja e minério de ferro, mas não vamos vender nossa alma. Isso é um princípio muito claro. Querem reduzir nossa política externa simplesmente a uma questão comercial, isso não vai acontecer.”
O ministro das Relações Exteriores disse aos futuros diplomatas que o Brasil, nos últimos anos, fez uma opção equivocada de querer se integrar à América Latina, Europa e BRICS, em vez de Estados Unidos, porque esses são parceiros que não foram capazes de ajudar no desenvolvimento do país.
“Essa aposta equivocada talvez explique que o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo quando seu principal parceiro de desenvolvimento eram os EUA, e depois estagnou, quando desprezou essa parceria com EUA e passou a buscar Europa, integração latino-americana, e, mais recentemente, o mundo pós -americano dos Brics,”
Araújo também questionou se a parceria com a China seria benéfica para o Brasil. “De fato, a China passou a ser o grande parceiro comercial do Brasil e, coincidência ou não, tem sido um período de estagnação do Brasil.”
Araújo afirmou que, ao ciclo do Barão de Rio Branco, seguiu-se um ciclo de “Barão de Munchhausen” na política brasileira, referindo-se ao personagem do século 18 que costumava mentir muito e exagerar suas aventuras.
“Foi um ciclo do Brasil com parceiros errados, tentando puxar a si mesmo para o desenvolvimento, sem conseguir sair dessa estagnação.”
Segundo ele, a política externa do PT e do PSDB não tem diferença. “Todas as politicas externas dessas últimas décadas são essencialmente as mesmas; e é curioso porque os petistas e os antigos críticos do PT se unem ao nos criticar, porque finalmente nos vamos fazer alguma coisa nova.”
Ele acusou o último governo, de Michel Temer, de querer normalizar as relações com a Venezuela. “As pessoas estavam se acostumando com o fato de que precisaríamos normalizar relações com um governo facínora como o da Venezuela, pelo simples fato de que temos fronteira com ele.”
Araújo voltou a fazer um libelo contra o globalismo, dizendo que, após a queda do muro de Berlim, houve “um processo de globalização econômica cada vez mais capturado por uma ideologia pós- marxista.”
Também disse que uma das prioridades da política externa é “trabalhar pela liberdade da internet”.
“Queremos fazer isso em todas as frentes, é fundamental para a o futuro da sociedade democrática”, afirmou.
“Hoje, metade da nossa vida se da no mundo real e metade no mundo virtual, precisamos promover os valores humanos de democracia nessa esfera virtual, o Brasil tem capacidade de fazer isso.”
O chanceler também disse que o governo Bolsonaro não irá se desviar de seus princípios.
“Muita gente acha que o governo Bolsonaro é um táxi; que ganhou a eleição, e agora basta entrar nesse táxi e conduzi-lo para onde quiser. Não é assim, a eleição não foi instrumento para que outros interesses ocupem e levem para outro lugar, a direção é muito clara e dada pelo presidente.”