A pergunta é quem é o adulto na sala, diz Haddad sobre governo Bolsonaro
No Ceará iniciando o que chamou de viagens para fortalecer a oposição e discussões sobre o Brasil, Fernando Haddad disse que o governo Jair Bolsonaro, que o derrotou em segundo turno na eleição em 2018, começa tendo que ser tutelado às crises semanais com que convive.
"A crise da semana, porque toda semana tem uma crise, envolvendo o ministro da Secretaria-Geral [Gustavo Bebianno] também preocupou a todos, a imprensa, os meios militares, um governo que está sendo tutelado de certa maneira, dada a incapacidade de articulação, a tutela tem sido a marca dos 45 dias. É sempre uma tutela, porque se deixar... A pergunta é qual é o adulto na sala, quando tem uma reunião do governo a pergunta é quem é o adulto na sala", disse Haddad antes de participar de evento em um hotel de Fortaleza.
Envolvido em denúncias de candidaturas laranjas do PSL, partido de Bolsonaro, na eleição, Bebianno foi desmentido publicamente pelo filho do presidente, Carlos, em uma rede social de que teria falado três vezes com Bolsonaro sobre a questão. "São mais do que denúncias [dos laranjas do partido], são provas em estado muito avançado e muito precocemente. O partido todo envolvido em problemas, ministros, tudo precocemente", disse Haddad.
Nesta sexta (15), em decorrência da crise, Bolsonaro avisou que Bebianno será demitido —a formalização deve ocorrer na segunda-feira (18).
Haddad afirmou que a reforma da previdência que pode ser enviada pelo governo ao Congresso é um "Temer piorado". "Acho que ninguém conhece a proposta, tem mais perguntas sem respostas do que respostas para as perguntas. Mas pelo que se disse até agora é um Temer piorado, aliás o governo tem se apresentado em todas as áreas como um Temer piorado", disse Haddad, se referindo ao antecessor de Bolsonaro na presidência, Michel Temer.
Nesta sexta (15), Bolsonaro usou uma rede social para falar que o ministro da Educação, Ricardo Vélez, apurou vários indícios de corrupção no MEC, de gestões anteriores, e que vai realizar uma Lava Jato da educação. Haddad foi ministro da Educação de 2005 a 2012, nos governos de Lula e Dilma Rousseff.
"Eu vi que a própria CGU [Controladoria-Geral da União] vai estar envolvida, a CGU faz um trabalho sério, muito técnico. Os projetos do MEC são muito grandes, pode ter uma outra instituição que pode ter descumprido alguma regra, do Fiec, do Prouni, nós chegamos a levar ao Ministério Público casos que não se comportavam bem, mas era mais fraude, ou tentativa de fraude, do que envolvimento de funcionário público", disse Haddad.
Se dizendo um agregador dos partidos progressistas de oposição a Bolsonaro, afirmou que conversa com o PDT, partido de Ciro Gomes, seu adversário em 2018 que não o apoiou oficialmente no segundo turno e tem tentado liderar a oposição em detrimento ao PT. Uma das críticas de alguns partidos de esquerda, por exemplo, tem sido o foco do PT na campanha Lula Livre.
"Apoio totalmente a determinação do partido pelo Lula Livre, em 120%, porque há uma injustiça com o presidente Lula. Até agora não achamos nas decisões algo que comprove falhas do presidente ao interesse público", completou Haddad. Lula está preso em Curitiba desde abril de 2018, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá.