A qualidade que o paciente não vê

Qualidade em saúde é um tema que gera muita discussão, desperta o interesse da população, e de forma geral todos têm uma opinião formada sobre o assunto. Mas será que realmente sabemos do que se trata essa qualidade?

Há quem diga que a instituição que oferece o atendimento mais rápido é a que tem mais qualidade; outros entendem que o hospital que tem funcionários mais atenciosos é o que tem mais qualidade, ou ainda aqueles que acreditam que a instituição que utiliza mais tecnologia e que tem equipamentos mais modernos seja a que proporciona um atendimento de mais qualidade.

Enfim, a percepção de qualidade varia de acordo com a necessidade, experiência e entendimento de cada pessoa.

Os critérios para avaliação sobre qualidade em saúde realmente não são claros para a população que utiliza o sistema, por uma simples razão —nunca órgãos públicos ou privados se interessaram em falar sobre o que realmente é qualidade em saúde.

Isso quer dizer que o atendimento rápido, humanizado e a infraestrutura de ponta não são critérios de qualidade? Não, isso quer dizer que estes elementos isolados não são o suficiente para dizer que uma instituição tem qualidade. Além das características que são perceptíveis aos nossos olhos, há uma série de avaliações e certificações pelas quais uma instituição de saúde é submetida para atestar a qualidade e segurança do atendimento ao paciente, como a acreditação hospitalar —uma certificação de qualidade, como a ISO, por exemplo, mas exclusiva para instituições de saúde.

Trata-se de um método de avaliação voluntário, periódico e que utiliza os recursos institucionais de cada hospital para garantir a qualidade da assistência por meio de padrões previamente definidos.

Quando um hospital se submete ao processo de acreditação, existe um grande investimento financeiro para adequação aos critérios exigidos; é necessário o envolvimento de toda a equipe da instituição, e o processo é complexo. Entretanto o resultado pode ser observado nos indicadores de desempenho dessas instituições.

Há ainda certificações específicas para os diferentes serviços dentro dos hospitais, que também são importantes ferramentas para a garantia da qualidade e segurança do atendimento ao paciente. Apesar disso, a qualidade parece ocupar papel secundário na discussão sobre a sustentabilidade do sistema.

No Brasil, infelizmente a cultura da avaliação dos serviços de saúde ainda está em seu estágio embrionário. Entre os mais de 6.000 hospitais brasileiros, menos de 350 possuem algum tipo de acreditação hospitalar. No entanto, esse diferencial é uma importante ferramenta para a população avaliar se determinada instituição preza a qualidade e segurança do atendimento.

Além disso, essa informação é facilmente encontrada no site das instituições de saúde, nos sites das próprias entidades certificadoras e no manual de credenciados das operadoras de planos de saúde. Essa informação é tão importante que a acreditação hospitalar é um dos critérios obrigatórios para ser associado titular da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).

Há mais de dez anos a Anahp passou a medir o desempenho dos hospitais associados à entidade a partir de indicadores coletados periodicamente. No início do projeto, foi feito um extenso trabalho de padronização desses dados, implementação de protocolos institucionais para a padronização dos processos com o intuito de impulsionar o bom desempenho clínico e operacional dos hospitais, benchmarking entre as instituições associadas e muita discussão e compartilhamento de boas práticas entre os hospitais. O resultado desse trabalho contínuo pode ser observado nos dados divulgados periodicamente para o mercado.
 
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), infecções hospitalares atingem cerca de 14% dos pacientes internados, além de ser responsável por mais de 100 mil mortes no Brasil todos os anos.

Os hospitais associados da Anahp, no entanto, apresentam contínua redução das taxas de infecção hospitalar, superiores inclusive às recomendações nacionais e internacionais. Um exemplo dessa realidade são os dados de 2017 do Guia de infecção do Center for Disease Control and Prevention (CDC) – Divisão do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA–, que mostram que a média de densidade de incidência de infecção do trato urinário relacionada a cateter vesical de demora em unidades de cuidados críticos foi de 2,38 a cada mil pacientes. Nos hospitais Anahp, foi de 1,99 no mesmo período.

Outro dado importante que reforça a qualidade das instituições de saúde é a adesão aos protocolos institucionais —instrumentos desenvolvidos para padronizar processos e nortear os profissionais em como proceder no atendimento de uma determinada patologia, buscando maior homogeneidade na assistência prestada, com o intuito de aumentar a satisfação dos pacientes, a segurança assistencial e, além disso, realizar adequada gestão de custos.

Nos casos de infarto agudo do miocárdio, a mediana de tempo de porta-balão ficou em 72,9 minutos em 2017, abaixo do limite de 90 minutos recomendado pela American Heart Association. Nos casos de acidente vascular cerebral isquêmico, a mediana de tempo de porta-trombólise venosa ficou em 32,3 minutos, abaixo do limite de 60 minutos estabelecido pela American Stroke Association.

Essas informações são extremamente importantes para o paciente escolher um serviço de saúde, ou para conhecer um pouco mais sobre a qualidade da instituição que o está atendendo, e o mais importante é que elas estão disponíveis para pesquisa, mas são pouco divulgadas.

Educar a população sobre conceitos básicos de qualidade em saúde e sua responsabilidade na utilização do sistema de saúde e no processo de cuidado é primordial para melhorar a saúde de nosso país. Este é o único caminho a ser trilhado para construirmos um modelos de saúde que seja motivo de orgulho e que atenda minimamente às necessidades da população.

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