Abismo competitivo entre Brasil e México é reflexo de escolhas do passado
A Anfavea (associação nacional das fabricantes de veículos) mostrou o quanto a indústria brasileira é ineficiente quando comparada à mexicana. É preciso considerar as diferenças entre os dois países antes de fazer críticas, mas os números assustam.
O México é um exportador de carros, posição que o obriga a se adaptar às necessidades de seus clientes e oferecer custos logísticos e tarifários atraentes.
O Brasil cresceu pautado no mercado interno, que já foi altamente rentável para montadoras e continua sendo para o governo, que arrecada impostos elevados e mal distribuídos.
Segundo estudo da consultoria PwC apresentado pela Anfavea, produzir um veículo no México custa 18 pontos percentuais a menos do que fazê-lo nas fábricas nacionais.
De imediato, pode parecer que há risco de montadoras abandonarem o Brasil. Contudo, é pouco provável que ocorra migração para as unidades mexicanas. Lá, a fabricação está sendo direcionada para os carros de maior valor agregado.
São os utilitários esportivos de médio e grande portes que ocupam as linhas de montagem do México. O destino principal é o mercado dos Estados Unidos, que comprou 78,6% do total de automóveis exportados pelo vizinho neste primeiro quadrimestre de 2019. Ao todo, 881 mil carros cruzaram a fronteira entre janeiro e abril.
Hoje, o México exporta 1,8% de sua produção para o Brasil, segundo balanço publicado pela Amia (associação das montadoras instaladas no México).
A ida de carros nacionais para o México está em um patamar igualmente baixo. Segundo os dados divulgados pela Anfavea, não haverá mudança significativa sem a melhora na competitividade.
Nesse cenário, o problema está nos entraves que impedem o Brasil de se tornar um exportador de vulto. O livre comércio transforma-se em uma oportunidade desperdiçada, pois há mercado no México para os carros compactos produzidos aqui.
A situação chegou a esse ponto devido às escolhas feitas por governos e indústria ano após ano desde a década de 1950. O mercado interno foi o centro do desenvolvimento do setor automotivo e não se deu um passo adiante quando a conjuntura mundial começou a mudar.
Nos anos 1990, os conceitos de carro global e de indústria unificada já estavam em prática, enquanto o Brasil se readaptava aos importados e fazia ajustes internos sempre baseados em variações pontuais de taxas e incentivos. Jamais houve esboço de uma reforma tributária mais ampla.
As regras mudaram, os veículos ficaram mais tecnológicos e caros de produzir.
A indústria brasileira agora é parte do mundo e faz automóveis que poderiam ser vendidos em mercados desenvolvidos sem grandes adaptações, tornando-se menos dependente da Argentina. Mas as escolhas do passado pesam e exigem mudanças profundas, que não irão ocorrer no curto prazo.