Abraham Weintraub | Inexperiência de novo ministro em Educação preocupa especialistas

O anúncio do economista Abraham Weintraub como novo ministro da Educação representa a chegada de mais uma pessoa distante das discussões de políticas públicas na área, a exemplo do demitido Ricardo Vélez Rodriguez. Mesmo com a troca, ainda há o temor de que ações do setor continuem em ponto morto, além de continuidade nas disputas dentro da pasta.

Ex-braço direto de Onyx Lorenzoni (DEM-RS) na Casa Civil, Weintraub é muito próximo do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro. Foi Eduardo, ligado ao escritor e guru da direita Olavo de Carvalho, quem havia garantido Vélez para o cargo. Também validou, agora, a indicação de Weintraub.

Assim como Vélez, o novo titular do MEC já defendeu a luta contra o "marxismo cultural". A concepção de que há em marcha um avanço de ideias de esquerda, que precisam ser combatidas, faz parte da cartilha olavista.

A gestão Vélez ficou marcada por embates entre olavistas e outros grupos, como militares. Discípulos do escritor que haviam liderado ataques a Vélez (e a membros do MEC que julgavam inimigos) comemoraram o anúncio nas redes sociais.

O próprio Olavo comentou o tema, também nas redes sociais: "Desejo toda a sorte do mundo ao ministro Weintraub, e só advirto: se aparecer algum Croquetti dando palpite, esconda-se no banheiro", escreveu. Um dos primeiro alvos dos olavistas no MEC foi o coronel-aviador Ricardo Roquetti, cuja demissão foi exigida por Bolsonaro no início de março.

Weintraub recebeu na Casa Civil a equipe da Educação em várias oportunidades. Perto de Weintraub, Vélez seria um tucano, disse um ex-integrante do MEC, em condição de anonimato, ressaltando a carga ideológica do novo ministro. 

Para a presidente do Movimento Todos Pela Educação, Priscila Cruz, o novo ministro encontra uma pasta inoperante depois de cem dias de governo. "A expectativa era um ministro com experiência em gestão pública e com a formulação de políticas públicas para educação básica, que tivesse clareza dos caminhos para melhorar os resultados educacionais. E ele não cumpre os dois requisitos", diz ela.

Além da escolha do novo ministro, há ainda o desafio para a montagem da equipe do MEC. A permanência do secretário-executivo, tenente-brigadeiro Ricardo Vieira Machado, é vista com mais atenção, por se tratar de um militar.

O MEC está com dois cargos importantes vagos: a secretaria de Educação Básica do MEC e a presidência do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).

Três das seis secretarias do MEC ainda podem passar por mudanças. As subpastas de Educação Profissional, Regulação do Ensino Superior e Modalidades Especializadas são ocupadas por ex-alunos de Vélez. A Folha apurou que esses secretários avaliam se haverá espaço no MEC para eles, embora não tenham recebido nenhuma informação até o meio da tarde desta segunda-feira.

"A depender da equipe que o novo ministro vai formar, veremos se será um ministro pragmático, com pessoas experientes para formular e implementar políticas para educação, ou se vai se seguir linha ideológica, repetindo o erro do Vélez", completa Priscila Cruz.

Olavistas pedem o retorno de discípulos do escritor à cúpula do MEC. Um deles, Eduardo Melo, é aposta do grupo para a secretaria-executiva, no lugar do brigadeiro Machado. Melo saiu do MEC mas foi alocado na TV Escola.

Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, diz esperar a continuidade de divisões dentro do MEC. 

"O ministro não ser da área nem é novidade, porque corresponde à regra dos últimos anos. O problema é que é mais um ministro dividido", diz. "Vai ficar dividido com a pauta econômica do [ministro da Economia] Paulo Guedes, próxima do mundo empresarial, ao mesmo tempo em que terá ter resolver a posição do MEC, ao reproduzir politicas que correspondam à agenda olavista, de combate ao suposto marxismo cultural."

O deputado Idilvan Alencar (PDT-CE) afiram que todas as notícias dos cem primeiros dias no MEC foram sobre disputas ideológicas, falta de gestão, irregularidades cometidas pelo ministro e políticas sem qualquer conexão com as urgências da educação no país. "Não discutimos programas, estratégias, ações, políticas públicas ou metas para melhorar a educação brasileira", diz.

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