Aclamada em lançamento de livro, Cristina Kirchner prega 'pacto entre argentinos'
A chuva que castigou Buenos Aires durante toda a tarde não impediu que os militantes kirchneristas lotassem a Feira do Livro e a via frente ao pavilhão em que ocorre o evento, a avenida Sarmiento.
Com capas de chuva, apoiadores de Cristina Kirchner iam chegando, carregando bandeiras e lenços com sua imagem e frases como "vamos voltar" e "ela nunca mentiu para nós".
Às 20h em ponto, a ex-presidente subiu ao palco da sala Jorge Luis Borges, a maior da feira, para apresentar "Sinceramente" (Penguin Random House), livro de memórias e sugestões políticas para a Argentina do futuro.
No auditório lotado, em que cabem mil pessoas, podia-se ver, entre elas, presidentes de associações de direitos humanos, como as Madres e as Avós da Praça de Maio, ex-ministros, políticos de esquerda, ex-juízes da Corte Suprema, atores, cineastas, escritores e cartunistas.
Para os 4 mil que viram a apresentação de dentro da feira, mas fora da sala, foi colocado um telão na praça central da feira. Outro também foi posto na própria avenida Sarmiento, fechada desde o início do dia para o evento.
Antes de que falasse, o editor do livro, Juan Ignacio Boido, disse que a obra tinha vendido 20 mil cópias na primeira hora depois de chegado às livrarias, 60 mil no primeiro dia e que agora já chegava a 300 mil cópias.
Muito aplaudida e com os cantos de guerra do kirchnerismo sendo cantado pelos apoiadores, Cristina esperou que a multidão se calasse para começar a falar.
Disse que não queria atacar nem criticar ninguém, mas que o país vive "um momento delicado em que é necessário um pacto entre todos os argentinos".
Apesar de não apresentar oficialmente sua candidatura, Cristina falou como se já estivesse certa sua postulação para as eleições de outubro de 2019 . O prazo para a inscrição final é 22 de junho.
Nas pesquisas, Cristina leva uma vantagem com relação ao atual presidente, Mauricio Macri, de 5 a 9 pontos percentuais —mesmo investigada em sete casos de corrupção.
Curiosamente, sugeriu que a Argentina seguisse o exemplo do norte-americano Donald Trump, por conta de sua política protecionista.
Afirmou que era urgente "recuperar a força do mercado interno e proteger o trabalho", e sua fórmula para isso era uma frente de diálogo com os empresários do país "para a criação de empregos reais, não precarizados".
A fala de Cristina lembrou a das cadeias nacionais, que eram muito comuns em seu período como presidente (2007-2015), combinando muitas auto-referências com uma boa retórica. Mencionou seu marido Néstor, morto em 2010, várias vezes.
Foi aplaudida e voltou a ouvir o cântico: "Néstor não morreu, Néstor vive no povo".
Em um dos momentos típicos de sua falta de modéstia, disse: "Esse livro não é a Bíblia, o Corão ou o Talmud, mas seguramente aportará elementos para o debate político num momento tão delicado da nossa história".
A ex-presidente comparou a gravidade da situação atual com a "noite da ditadura", os tempos da hiperinflação dos anos 1980 e a crise político-econômica de 2001.
Ao final, defendeu-se do rótulo de "populista", dizendo que "muitos não entendem que a Argentina é um país com uma base social muito desigual e dizem que pensar nestes que estão em dificuldades seria populismo. Eu não me importo, não me soa pejorativo".