Acordo para o 'brexit' passa em primeiro teste político com aprovação por gabinete de May
Os principais integrantes do gabinete da primeira-ministra britânica, Theresa May, deram sinal verde nesta quarta-feira (14) para o acordo sobre o “brexit” (saída do Reino Unido da União Europeia) fechado na véspera por negociadores britânicos e europeus.
“Acredito fortemente, com minha cabeça e meu coração, que ele [o acerto] atende da melhor maneira aos interesses do Reino Unido como um todo”, disse a chefe de governo, ao fim de uma reunião de cinco horas em Downing Street, em Londres.
“A escolha diante de nós é clara. [Ou] Esse acordo, que responde ao voto majoritário no plebiscito [de junho de 2016] e nos devolve o controle de nossa moeda, de nossas leis e fronteiras, põe fim à livre circulação, protege empregos, segurança e nossa união como reino, ou uma saída sem acordo, ou nem sequer um ‘brexit’”, completou.
May afirmou que irá ao Parlamento na quinta-feira (15) para apresentar e defender os termos do texto e observou que o endosso de seus ministros não foi alcançado facilmente –não está claro se ele foi unânime.
Durante toda a quarta, a imprensa britânica especulou sobre nomes do gabinete que poderiam renunciar por discordar do teor do documento redigido em Bruxelas, mas não houve deserções nem antes, nem durante o longo encontro.
O último a deixar o governo foi o secretário de Transporte, Jo Johnson, que, na última sexta (9), disse que May se preparava a oferecer ao Parlamento britânico uma escolha “entre a vassalagem e o caos”.
Também circulou nos principais veículos da Inglaterra a informação de que correligionários da líder conservadora insatisfeitos com as cláusulas que estavam sendo noticiadas (o texto, de 585 páginas, só foi divulgado após o pronunciamento) estavam articulando um voto de desconfiança em May no Parlamento.
Pelo regulamento dos Tories (conservadores britânicos), 48 membros do Legislativo precisam redigir cartas colocando em questão a liderança do partido para que uma sessão seja convocada com o fim de apreciar a demanda.
A principal causa da contrariedade (e também o item que vinha bloqueando as negociações havia meses) é o chamado “backstop”.
Trata-se da garantia exigida pela República da Irlanda (integrante da União Europeia) de que, caso as partes não chegassem a um acordo sobre sua futura relação comercial até dezembro de 2020 (fim do chamado período de transição), não voltaria a existir um controle rígido de mercadorias e pessoas na fronteira entre as Irlandas –Dublin temia que a “fronteira dura” fizesse ressurgir tensões nacionalistas acalmadas há 20 anos.
A União Europeia sugeriu então que, não havendo acerto entre Bruxelas e Londres a tempo, a Irlanda do Norte ficasse no mercado comum continental provisoriamente. Belfast estrilou, dizendo que não aceitaria tratamento distinto daquele reservado ao restante do Reino Unido.
Londres viu na ideia uma ameaça à soberania e à coesão britânicas. Fez a contraproposta de uma união aduaneira temporária entre a Europa e os quatro países que integram o Reino Unido: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
Ainda assim, algum tipo de checagem alfandegária seria necessária no mar que separa Grã-Bretanha e Irlandas, cenário a que Belfast resistia por achar que denotava status distinto.
Quando os primeiros detalhes do acordo foram divulgados pela imprensa britânica, líderes do Partido Unionista Democrático, legenda norte-irlandesa que dá sustentação ao governo May, subiram o tom das críticas. “Sejamos claros: não vamos votar [aprovar] essa humilhação!”, escreveu em rede social Sammy Wilson.