Ala militar quer general efetivado no lugar de Bebianno, isolando Onyx
O general da reserva Floriano Peixoto deverá ser efetivado no lugar de Gustavo Bebianno como chefe da Secretaria-Geral da Presidência nesta segunda (18). Com isso, Onyx Lorenzoni (Casa Civil) é o último ministro civil com assento no Palácio do Planalto.
A consolidação do poder militar dentro do núcleo do poder ocorre no momento de maior fragilidade política do governo Jair Bolsonaro (PSL). O escândalo das candidaturas laranjas do partido do presidente, que Bebianno chefiou na campanha de 2018, foi o pivô para o caótico processo de saída do ministro do governo.
O embate entre ele, Bolsonaro e Carlos, filho do presidente que disparou a crise na quarta (13) ao dizer que o ministro era mentiroso, foi visto com extrema preocupação pela ala militar do governo.
Esse grupo quer que Peixoto, hoje secretário-executivo de Bebianno, seja nomeado de forma definitiva. Há a possibilidade de o presidente o fazer de forma interina, mas salvo mudanças o general dormirá ministro efetivo nesta segunda.
Com isso, Onyx está isolado dentro do palácio como representante civil. Ele tem trânsito aceitável com a área militar, mas não é considerado um dos seus pelos generais, e não apenas por uma questão de fardamento.
A tramitação da reforma da Previdência, que será levada ao Parlamento, é uma das maiores preocupações hoje dos militares, que não veem no chefe da Casa Civil estofo para orientar o trabalho no Congresso.
Além do próprio Bolsonaro, que é capitão reformado, vieram do Exército o vice-presidente Hamilton Mourão (general da reserva) e os ministros Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional, general da reserva) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo, general da reserva).
Outros generais têm papel de destaque na estrutura interna, como Maynard Santa Rosa (reserva, chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos) e o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros (que é da ativa).
Floriano Peixoto Vieira Neto tem 64 anos e uma longa história no Exército, embora não tenha chegado a integrar o Alto Comando —é general-de-divisão, com três estrelas, o penúltimo grau mais alto da hierarquia. Comandou unidades importantes, como a 12ª Brigada de Infantaria Leve (Aeromóvel), no Vale do Paraíba (SP), o 62º Batalhão de Infantaria de Joinville (SC), e chefiou a 2ª Divisão do Exército, em São Paulo.
Mas foi o Haiti que marcou sua carreira, assim como ocorreu com colegas como Heleno, Santos Cruz, Rêgo Barros e outros que participaram da Missão de Paz da ONU (Organização das Nações Unidas) comandada pelo Brasil na ilha caribenha de 2004 a 2017.
Tendo experiência internacional por ter sido instrutor nos Estados Unidos, Floriano Peixoto estava na 5ª Subchefia do Estado-Maior do Exército, responsável pelo planejamento de missões estratégicas, inclusive no exterior. Em 2004, ele ajudou a organizar a Minustah, como a missão de paz era conhecida.
Coronel à época, ele foi o chefe de operações do primeiro contingente brasileiro enviado para o país. Retornou em 2009 como comandante militar da missão, já general, e enfrentou em 2010 uma das maiores crises humanitárias já geridas pela ONU, a decorrente do terremoto que matou 200 mil pessoas na ilha.
Na prática, ele foi o comandante geral da Minustah durante os esforços de coordenação com as tropas americanas enviadas para ajudar o socorro das vítimas.
Ele e Santos Cruz ocuparam cargos semelhantes. Na reserva, Santos Cruz foi convocado para comandar tropas da ONU na guerra civil do Congo e Floriano Peixoto, para integrar o painel das Nações Unidas que reformulou estratégias de missões de paz.
Esse destaque fazia contraste ao fato de que ambos não foram promovidos para a quarta estrela do generalato. Interlocutores de ambos atribuem isso ao fato de que eles foram bloqueados na etapa final da carreira no contexto da disputa entre superiores pela sucessão do Comando do Exército em 2014.
Como em toda corporação, há panelinhas e subdivisões entre militares, por mais que se orgulhem de uma suposta ordem unida.