Alckmin e Ciro criticam improviso e 'vassalagem' do Brasil aos EUA sob Bolsonaro
Ex-candidatos à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) fizeram nesta sexta-feira (5) críticas duras ao governo de Jair Bolsonaro, classificado por eles como um conjunto de disparates, pautado pelo improviso e pela "vassalagem vergonhosa" em relação aos Estados Unidos.
Os dois políticos, derrotados pelo atual presidente na eleição de outubro, alinharam discursos quanto à falta de articulação política do Planalto —que não consegue angariar uma base aliada no Congresso— e à aproximação do Brasil com o governo de Donald Trump.
Os ataques a Bolsonaro e a sua gestão aconteceram diante do ministro Santos Cruz (Secretaria de Governo), responsável justamente pela relação do Planalto com o Congresso.
O general estava na plateia da Brazil Conference, evento organizado por alunos da universidade de Harvard e do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e passou grande parte do tempo —pouco mais de uma hora e meia— mexendo no celular e foi embora antes do fim do debate.
Enquanto Alckmin afirmou que Bolsonaro comanda um governo "improvisado e heterogêneo", com "pauta equivocada", Ciro chamou Bolsonaro de imbecil e disse que o alinhamento com a Casa Branca é uma "coisa nojenta".
"É uma vassalagem vergonhosa ao Trump. É uma coisa nojenta colocar o filho mexendo em coisa séria", disse o ex-governador do Ceará.
Eduardo Bolsonaro, filho caçula do presidente, é responsável pela chancela às principais decisões de política externa do governo —o deputado, atual chefe da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, participou da reunião privada entre Bolsonaro e Trump na Casa Branca, em março.
O tucano, por sua vez, também criticou o alinhamento do Brasil aos EUA. Ele afirmou que o país é "caudatário do Trump, sem a menor necessidade" e disse que a relação está prejudicando as exportações brasileiras, principalmente em relação ao mundo árabe.
Apesar disso, ambos avaliam que a democracia não está ameaçada durante o governo Bolsonaro e, para Ciro, a gestão é "antecedência de grande confusão", mas não há organização para um impeachment do presidente.
O ex-governador de São Paulo voltou a rechaçar a ideia de disputa entre nova e velha política —discurso ecoado insistentemente pelo presidente e seus principais auxiliares— e disse que o governo perde tempo ao discutir questões contaminadas por teses ideológicas.
"Estão discutindo se o nazismo é de direita ou de esquerda, se 64 foi golpe ou não. Não tem nova ou velha política, tem boa e má política e a boa política não envelhece", afirmou Alckmin.
O tucano se reuniu esta semana com Bolsonaro em Brasília, e repetiu que seu partido, o PSDB, não vai participar do governo, mas votará a favor de projetos que acredita serem bons para o país.
Ex-candidato do MDB ao Planalto, Henrique Meirelles (MDB) também participou do debate e disse acreditar que as instituições estão funcionando normalmente. "Não acho que a democracia esteja ameaçada".
Essa foi uma das teses do então candidato do PT ao Planalto, Fernando Haddad, que afirmou, durante a campanha, que a democracia estava sob ameaças caso Bolsonaro fosse eleito.
Haddad, derrotado no segundo turno, foi convidado para o evento mas cancelou sua participação. Ele viajou a Porto Alegre para a caravana Lula Livre, em defesa da liberdade do ex-presidente, preso em Curitiba há um ano por corrupção.
Guilherme Boulos (PSOL), que também concorreu à Presidência no ano passado, foi convidado de outro painel da conferência.