Aliados de Erdogan rejeitam versão saudita para morte de jornalista
Aliados do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, rejeitaram nesta segunda (22) a explicação oficial da Arábia Saudita para a morte do jornalista Jamal Khashoggi, no mesmo dia em que a imprensa turca apontou que um dos acusados pela ação teria ligado para o príncipe herdeiro saudita no dia do crime.
Segundo o jornal Yeni Safak, o homem apontado como o líder da equipe saudita de 15 agentes enviados a Istambul para matar o jornalista fez três ligações para o gabinete do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman (MBS) após o assassinato.
O homem citado é Maher Abdulaziz Mutreb, membro da guarda de MBS, e que pode ser visto nas imagens das câmeras de segurança, ao chegar ao consulado saudita e depois na residência do cônsul no dia do desaparecimento de Khashoggi —o governo saudita diz que o príncipe não sabia da ação.
O jornalista, crítico de Riad e colunista do jornal The Washington Post, desapareceu no último dia 2 ao entrar no consulado saudita em Istambul para conseguir documentos para se casar.
Também nesta segunda, a rede de TV CNN revelou que imagens das câmeras de segurança do consulado mostram um homem deixando o local usando as roupas de Khashoggi.
Segundo a emissora, o homem foi um dos responsáveis pelo assassinato do jornalista que foi usado como “dublê de corpo” para simular que o jornalista ainda estava vivo.
Na sexta (19), o governo saudita confirmou que Khashoggi foi morto no consulado, mas disse que isso ocorreu em decorrência de uma briga entre eles e uma equipe de agentes.
Já no domingo (21), o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Adel al-Jubeir, deu uma nova versão, afirmando que o jornalista tinha sido vítima de uma "operação clandestina".
Mas em entrevista coletiva em Ancara nesta segunda, o porta-voz do partido de Erdogan, Omer Celik, afirmou que "estamos diante de uma situação que foi selvagemente planejada e de uma mobilização de esforços consequentes para tentar dissimular" esse assassinato.
Outro aliado do presidente turco, Yasin Aktay, que também era amigo de Khashoggi, disse que a explicação saudita não faz sentido.
"É impossível não se perguntar como pode ter havido uma 'troca de socos' entre 15 combatentes jovens especializados... e Khashoggi, de 60 anos, sozinho e impotente", escreveu ele também no Yeni Safak.
"O argumento da 'troca de socos' para a morte de Khashoggi é um cenário montado às pressas agora que ficou claro que os detalhes do incidente virão à tona em breve", escreveu Aktay. "Quanto mais se pensa nisso, mais parece que se está zombando da nossa inteligência".
No jornal Hurriyet, o colunista Abdulkadir Selvi, próximo de Erdogan, afirmou que após entrar no consulado Khashoggi foi imediatamente levado para o escritório do cônsul, onde foi estrangulado pelos agentes sauditas. "Tudo demorou entre 7 e 8 minutos", afirma o jornalista.
O corpo foi cortado em 15 pedaços por um médico legista integrante da equipe, completa Selvi. De acordo com o colunista, o corpo desmembrado foi retirado do consulado e levado para um local ainda desconhecido de Istambul.
"Se o príncipe herdeiro não prestar contas e não for afastado de seu cargo, então não poderemos encerrar este caso", afirmou ele.
Erdogan anunciou que fará um discurso nesta terça (23) no qual prometeu revelar os detalhes da investigação sobre o caso.
Além do governo turco, diversos outros países também criticaram a versão saudita e pediram mais explicações sobre o caso.
Em um comunicado conjunto no domingo, Reino Unido, Alemanha e França condenaram o assassinato de Khashoggi, dizendo que há uma "necessidade urgente de esclarecer exatamente o que aconteceu".
A nota afirma que ataques contra jornalistas são inaceitáveis e "de extrema preocupação para as nossas três nações". Eles disseram ainda que as hipóteses propostas até agora na investigação saudita precisam ser apoiadas por fatos para serem consideradas confiáveis
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou ainda que apoia o congelamento das exportações de armas para a Arábia Saudita enquanto o caso não for esclarecido.
O governo americano fechou uma venda de mais de US$ 100 bilhões (R$ 367 bilhões) para Riad e até o momento o presidente Donald Trump tem defendido a manutenção do acordo, embora também tenha criticado a versão saudita para o caso.