Alta rotatividade de jogadores traz maus resultados, mostra estudo
Se em time que está ganhando não se mexe – um velho preceito futebolístico –, naquele que está perdendo mexer muito também não é adequado, pois a chance de dar errado no fim do campeonato é significativa.
Em seu relatório mensal, o Observatório de Futebol Cies publicou um estudo sobre a rotatividade de jogadores nos clubes dos cinco principais campeonatos nacionais na Europa (Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália).
Criado em 2005 por Raffaele Poli, doutor em ciências humanas, e Loïc Ravenel, especialista em geomarketing esportivo, o Cies (Centro Internacional de Estudos Esportivos) tem sede em Neuchâtel (Suíça) e é especializado em análise de estatísticas de futebol.
De acordo com esse levantamento, feito de 2005 a 2018 e assinado por Poli, Ravenel e Roger Besson (doutor em ciências humanas e sociais), quanto mais jogadores um time utiliza em uma temporada, maior é a probabilidade de ter um desempenho ruim.
Desempenho ruim significa terminar o campeonato na parte de baixo (bem de baixo) da tabela. O rebaixamento costuma ser o “prêmio” à opção pelo rodízio descomedido.
O time recordista no uso de jogadores em uma única temporada é o Benevento, da Itália. Em 2017/2018, 41 atletas foram utilizados ao longo de 38 partidas.
O resultado? Vigésimo e último colocado, e o retorno à segunda divisão.
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Na sequência vêm o inglês Fulham-2013/2014, que recorreu a 39 jogadores, os italianos Parma-2014/2015, Pescara-2012-2013 e Sassuolo-2013/2014, e o francês Metz-2007/2008 (cada um escalando 38 jogadores).
Desses, todos tiveram campanhas vexatórias, que culminaram na queda para a Segundona, à exceção do Sassuolo, que escapou por muito pouco ao ficar em 17º lugar, somente uma posição acima da zona da degola.
Se a alta rotatividade se mostra, com raras exceções, sinônimo de fiasco, manter uma base sólida, com um time titular reforçado por um número moderado de reservas, traz, conforme o estudo do Cies, dividendos.
No intervalo de 13 anos da pesquisa, seis clubes disputaram a temporada completa com no máximo 21 jogadores. E todos terminaram a competição entre os seis primeiros colocados.
Sob o comando do treinador suíço Lucien Favre, o Borussia Mönchengladbach atravessou a Bundesliga 2014/2015 empregando 19 atletas em 34 partidas. Acabou em terceiro lugar.
Hoje no Borussia Dortmund, o técnico Lucien Favre conduziu o Borussia Mönchengladbach ao terceiro lugar na Bundesliga em 2014/2015 utilizando apenas 19 jogadores (Reprodução/Site do Borussia Dortmund)
O mesmo Gladbach, em 2013/2014, também com Favre (hoje no Borussia Dortmund, líder do Campeonato Alemão) e com um total de 21 jogadores no decorrer da Bundesliga, tinha obtido a sexta posição (entre 18 equipes).
Os outros times que foram bem com essa quantidade de atletas (21) são o alemão Bayern (2º em 2011/2012), o francês Nancy (4º em 2007/2008) e o inglês Aston Villa (6º em 2007/2008 e em 2008/2009).
Na lista dos 31 clubes que utilizaram 22 jogadores em uma temporada (o Atlético de Madri fez isso duas vezes), 23 terminaram no top 10.
Dentre esses 23, três sagraram-se campeões: na Alemanha, o Bayern 2016/2017; na Itália, a Juventus 2005/2006 (perdeu o título posteriormente devido a um escândalo de fraude em resultados); e na França, o Lille 2010/2011.
Os pesquisadores afirmam que “a correlação negativa entre a quantidade de jogadores escalados e os pontos obtidos [pela equipe] atestam a relevância de manter um núcleo de atletas para otimizar a performance”.
“A grande diferença entre clubes que utilizam menos de 25 jogadores (1,61 pontos por jogo) e aqueles que usam mais de 32 (1 ponto por jogo) confirma o efeito prejudicial da alta rotatividade de atletas”, conclui o trio Poli-Ravenel-Besson.
Em tempo: Não é necessário ser expert para saber que muitas mudanças no time prejudicam algo comumente fundamental para o sucesso no futebol: o entrosamento entre os jogadores. Isso é tão óbvio quanto elementar.