Alunos brasileiros não chegam ao fim de prova em avaliação mundial
O fraco desempenho dos alunos brasileiros na principal avaliação internacional de educação básica, o Pisa, não ocorre apenas porque eles não acertam as perguntas da prova. A maioria dos estudantes piora a performance ao longo do exame e não consegue sequer chegar ao fim da prova.
A análise aparece em uma pesquisa inédita capitaneada pelo professor Naercio Menezes Filho, do Insper e da USP, e permite ampliar a interpretação dessa avaliação.
"Parte do diagnóstico é de que os alunos não sabem o que é pedido, ou têm dificuldade de entender os enunciados, mas há outros fatores por trás", diz. "Há também uma questão de estímulo, de motivação dos alunos brasileiros", afirma o pesquisador.
O comportamento dos brasileiros aponta também a falta de habilidades de fazer provas, além do baixo conhecimento das disciplinas e de competências socioemocionais, como resiliência.
Caso os brasileiros soubessem administrar melhor o tempo na prova, a pontuação poderia ser melhor --embora não o suficiente, de acordo com o estudo, para alavancar a posição do país.
O Pisa de 2015, a edição mais recente, avaliou jovens de 15 e 16 anos em 70 países e territórios em matemática, leitura e ciências. A média geral deixa o Brasil nas últimas posições: fica na 63ª posição em matemática, 58ª em leitura e 65ª em ciências.
Organizado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, uma entidade que reúne países desenvolvidos), ocorre a cada três anos.
Essa nova pesquisa destrinchou o desempenho em cada questão. Como o último Pisa foi totalmente aplicado pelo computador, foi possível medir ainda o tempo que os alunos perderam com cada item.
O estudo aponta que 61% dos brasileiros não conseguem chegar até a última questão da primeira parte da prova. Entre os estudantes da Finlândia, por exemplo, esse índice é de apenas 6%.
Na Colômbia, que tem resultados similares aos nossos, apenas 18% dos estudantes têm esse resultado.
Os brasileiros perdem muito tempo em cada questão, sobretudo nas primeiras.
E mesmo com baixo nível de acerto já desde a primeira pergunta, o desempenho dos brasileiros vai caindo ao longo da prova: aumentam os erros e dispara a quantidade de alunos que não chegam às últimas questões.
Entre os 70 países e territórios avaliados, o Brasil tem o 55º pior nível de queda de desempenho ao longo do Pisa. Países ou territórios orientais, como Taipei, Coreia do Sul e Hong Kong aparecem no topo: seus alunos mantém quase o mesmo desempenho do início ao fim.
Artigo publicado neste ano no periódico Economics of Education Review mostra como essa queda de rendimento ao longo da prova não é evidência que se restringe à educação. Esse comportamento dos alunos de um país tem forte associação estatística com o crescimento econômico dessas nações, segundo o estudo do espanhol Pau Balart.
De acordo com Menezes, há questões culturais envolvidas. "O que faz um aluno responder uma prova que não vale nada pra ele? Em outros países se percebe uma motivação intrínseca, que vem de dentro do aluno."
Claudia Costin, do Centro de Excelência e Inovação de Políticas Educacionais da FGV, diz que as habilidades exigidas em uma prova são importante para a vida adulta.
"Será que não há um componente nosso de não ter um incentivo associado? Já que não acertou as primeiras, [o aluno] não acredita muito que irá conseguir", diz a colunista da Folha. "Competências como persistência, garra, administração do tempo, são coisas que as pessoas vão precisar pra vida."