Alunos protestam, e Mackenzie suspende estudante que falou em 'negraiada'

Na manhã desta terça-feira (30), centenas de estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, protestaram em repúdio às falas de um aluno da instituição que aparece em vídeos ameaçando matar “negraiada” e “vagabundo com camiseta vermelha”.

Segundo um aluno do 9º semestre, que pediu para não ser identificado, o ato não pretendia “fazer justiça com as próprias mãos” ou transformar a vida do aluno “em um inferno”, mas sim cobrar uma posição da universidade.

“O protesto foi apartidário, pessoas de direita e esquerda estavam lá. Ele serviu para dizer que tem negros no Mackenzie, que essas vidas importam, que a gente não pode criar um ambiente acadêmico onde a pessoa se sinta confortável para fazer um vídeo ameaçando de morte minorias”, explica ele.

Os vídeos que geraram a reação foram postados no perfil pessoal do próprio estudante, que está no 10º semestre do curso de direito. Na segunda-feira (29), eles começaram a circular entre outros alunos e ganharam repercussão nacional, após publicação de reportagem no Painel, da Folha. O jovem foi identificado pelos colegas e demitido do escritório de advocacia onde trabalhava.

Em um dos vídeos, ele aparece dentro de um carro, vestindo uma camiseta com a foto do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), e diz que vai “estar armado com faca, pistola, o diabo, louco para ver um vagabundo com camiseta vermelha para matar logo”. Ele segue dizendo que “essa negraiada, vai morrer” e grita “é capitão, caralho”. No segundo vídeo, o estudante segura um revólver e canta “capitão, levanta-te”.

Integrante do Coletivo Negro Mack, que reúne estudantes negros do Mackenzie, Lucas, 23, aluno do 7º semestre de direito, conta que alguns alunos negros faltaram a aulas desde a divulgação dos vídeos por medo.

“É uma coisa que a gente está vendo crescer no país. A eleição do Bolsonaro legitimou esse discurso, como se não tivesse mais barreiras, nem ética, nem moral, só uma desumanização e um ódio muito grandes. A gente tem que mostrar que isso tem que ser combatido”, diz.

Em nota enviada à Folha, o reitor da universidade, Benedito Aguiar Neto, afirma que as opiniões e atitudes expressas no discurso do aluno “são veementemente repudiadas” pela instituição.
 
Ele diz ainda que foi instaurado um processo disciplinar “aplicando preventivamente a suspensão” do aluno e aberta “sindicância para apuração e aplicação das sanções cabíveis, conforme dispõe o Código de Decoro Acadêmico da Universidade”.

O ato desta terça iniciou por volta das 8h e se dissipou perto das 10h. Convocado de forma espontânea por alunos da Faculdade de Direito, também reuniu alunos dos cursos de Engenharia, Comunicação Social e Arquitetura. Um segundo protesto está marcado para às 19h desta terça.

Nas eleições deste ano, o Diretório Central de Estudantes (DCE) e o Centro Acadêmico João Mendes Jr., da Faculdade de Direito, haviam se manifestado oficialmente contra a candidatura de Jair Bolsonaro e a favor de Fernando Haddad (PT). O Mackenzie, porém, se manteve neutro.

Em um texto postado nas redes sociais, o Centro Acadêmico diz que a posição é “um mea culpa” para reparar o apoio de alunos à ditadura militar em 1968. No dia 3 de outubro daquele ano, estudantes do Mackenzie entraram em confronto com alunos da Universidade de São Paulo, contrários ao regime, no episódio que ficou conhecido como “batalha da Maria Antônia”.

Um estudante secundarista, José Guimarães, 20 anos, quatro pessoas foram baleadas e dezenas ficaram feridas. O episódio também serviu como justificativa para a implementação do Ato Institucional Nº 5. 

Veja a nota na íntegra:

A Universidade Presbiteriana Mackenzie tomou conhecimento de vídeos produzidos por um discente, fora do ambiente da Universidade, e divulgados nas redes sociais, onde ele faz discurso incitando a violência, com ameaças, e manifestação racista.

Tais opiniões e atitudes são veementemente repudiadas por nossa Instituição que, de imediato, instaurou processo disciplinar, aplicando preventivamente a suspensão do discente das atividades acadêmicas. Iniciou, paralelamente, sindicância para apuração e aplicação das sanções cabíveis, conforme dispõe o Código de Decoro Acadêmico da Universidade.

Benedito G. Aguiar Neto
Reitor

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