Analista foi descoberto por Bielsa em rádio e já trabalhou em cinco Copas
Gabriel Wainer acompanhava o Newell’s Old Boys (ARG) para a Rádio Sport de Rosário quando Marcelo Bielsa foi promovido a técnico dos profissionais, em 1990.
O contato foi diário com o treinador durante dois anos. Várias conversas sobre futebol. Até que, em 1992, quando foi para o Atlas (MEX), Bielsa deixou um conselho para o radialista.
“Acho que você deveria fazer o curso para técnico”, sugeriu.
Foi o início do caminho do único argentino a estar presente nas últimas cinco Copas do Mundo.
Wainer esteve em 2002, na Coreia-Japão, com Bielsa na seleção argentina. Em 2006, na Alemanha, integrava a comissão técnica de José Pékerman, com quem também trabalhou em 2014 e 2018, estes dois últimos anos na seleção colombiana. Em 2010, na África do Sul, ele esteve com Gerardo Martino na equipe do Paraguai.
Para todas as seleções, Wainer foi analista de vídeo, observando futuros adversários e jogadores que poderiam ser convocados. Um trabalho que ele mesmo reconhece ser exaustivo, mas que o fez aprender diferentes estilos e pensar em sonhos mais altos.
“Talvez eu pense em dirigir [um time] e queira tirar a dúvida de como seria transmitir essas ideias a um grupo de jogadores. Depois de tantos anos trabalhando com Bielsa, Pékerman e Martino e com seus grupos, aprendi muito”, diz ele, em entrevista à Folha.
Wainer deu sorte porque encontrou, no início da década de 1990, alguém aberto a conversar sobre futebol com alguém que não era do meio até então. Há profissionais que acreditam na tese de que, para entender do esporte, é preciso tê-lo jogado.
Bielsa não era desses e se interessou pelas observações do então radialista. Considerou-as originais e pertinentes. Gostava das perguntas que ele fazia nas entrevistas. Por isso o aconselhou a fazer o curso e mesmo do México lhe telefonava para perguntar sobre o Newell’s e o que ele aprendia nas aulas.
“Quando Bielsa assumiu o Vélez Sarsfield, em 1997, me pediu um trabalho de buscar jogadores. Morei durante quatro meses no Brasil. Meu primeiro trabalho foi assistir ao Campeonato Brasileiro e passar informes para ele sobre atletas”, relembra.
Foi assim que indicou o atacante Cléber, que estava no Coritiba. Disse que ele se encaixava na descrição do que Bielsa queria para o Vélez. Mas o brasileiro foi para o Mérida, da Espanha.
“Cada um tem sua característica. Tive de me adaptar ao modo de cada um para ser útil. [A relação] com Bielsa foi um pouco mais forte porque eu vinha do jornalismo. Vi que havia outra forma de ver o jogo. Aprendi com ele”, explica.
Isso significava valorizar os espaços. Que para o jogador o futebol tinha de ser bem mais do que apenas carregar a bola. Martino o ensinou a como lidar com os jogadores e a administrar o vestiário.
“Tata [apelido de Gerardo] fala da mesma forma com o cozinheiro, o jardineiro, os ajudantes e os futebolistas”, completa.
A função do analista de desempenho ou de adversários entrou na moda no futebol quando Wainer já tinha anos de experiência. Nos anos 1990, era um trabalho hercúleo, que exigia paciência e contatos.
“Com Bielsa, fazíamos um VHS e, para editar, colocávamos a fita cassete virgem. Com a mão, fazíamos pausa, apertávamos REC, pausa, REC. Gravando e cortando. Era interminável”, relembra.
Para observar boleiros argentinos ao redor do mundo, contava com amigos que gravavam jogos e mandavam por companhia aérea. Wainer ia até o aeroporto recolher as fitas.
Hoje é possível ver qualquer partida do mundo pelo computador e há diversos programas de edição.
De longe, sem ser mais funcionário da AFA (Associação de Futebol Argentina), ele observa a confusão de quem será o técnico da seleção nacional. Lionel Scaloni é interino, mas pode ficar. O futebol do país tem nomes de ponta na Europa, como Diego Simeone (Atlético de Madri-ESP) e Mauricio Pochettino (Tottenham Hotspur-ING), mas ninguém quer o trabalho.
“Não há futuro sem projeto. O projeto não pode ser da boca para fora. Tem de ser elaborado por gente que entenda do jogo. Há de se reformular muitas coisas na base. Primeiro nos clubes, depois na seleção. São 10, 15 anos de trabalho, um trabalho de longo prazo, de estrutura. Depois disso se elege um estilo. Há de se definir como se jogar na Argentina e não apenas nomear”, finaliza.