André João Rypl e Ulisses Barres de Almeida: Unispace+50 e o interesse do Brasil nas atividades espaciais
As tecnologias espaciais são responsáveis por viabilizar inúmeras atividades na sociedade moderna. São elas que tornam possíveis os serviços de navegação, por meio dos satélites de posicionamento GPS.
Satélites que monitoram o clima e fotografam a superfície terrestre fornecem dados essenciais para a economia e o setor produtivo, com impactos na agricultura, preservação do meio ambiente, educação, saúde, urbanização, etc.
Foram os satélites de telecomunicações, enfim, que conectaram e apequenaram o mundo, transformando a Terra na vila global que coabitamos. Hoje, a economia espacial é estimada em mais de US$ 300 bilhões, dos quais 70% estão associados ao setor privado.
A importância das atividades espaciais para a vida na Terra foi o foco da UNISPACE+50 —a Conferência das Nações Unidas sobre Exploração e os Usos Pacíficos do Espaço, realizada em Viena, nesta semana.
O encontro reuniu políticos, diplomatas, cientistas, ONGs e especialistas de todo o mundo para discutir formas de fortalecer a cooperação internacional e garantir a sustentabilidade das atividades espaciais. A resolução "Espaço como Promotor do Desenvolvimento Sustentável”, endossada pela conferência, apresenta os principais pontos que deverão nortear as atividades espaciais nas próximas décadas.
Além de apoiar a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, busca-se assegurar que a humanidade continue a se beneficiar das tecnologias espaciais.
Os desafios, porém, são imensos. Detritos espaciais ameaçam satélites em órbita. A queda no custo de equipamentos e tecnologias gera problemas complexos, conforme mais atores se aventuram além da atmosfera terrestre. Os interesses de defesa nacional de alguns países trazem consigo o risco de uma corrida armamentista no espaço, com consequências trágicas e imprevisíveis para todo o planeta.
O Brasil tem sido defensor de maior diálogo e aproximação entre os atores espaciais globais, na busca de soluções para esses desafios. Nas Nações Unidas, a diplomacia brasileira tem trabalhado ativamente na elaboração de diretrizes voltadas à preservação das atividades espaciais a longo prazo e na negociação de acordos para a prevenção de uma corrida armamentista no espaço.
Em 2019, o país presidirá o Comitê da ONU para os Usos Pacíficos do Espaço Exterior (Copuos), o principal fórum para a promoção da cooperação internacional nessa área. Esse papel de destaque reflete não somente o caráter pacífico de nosso programa espacial, mas também nossa experiência com o uso das atividades espaciais em prol do desenvolvimento sustentável.
As soluções espaciais brasileiras geram produtos que podem ser replicados em outros países em desenvolvimento, como os sistemas de monitoramento do desmatamento. Nossa parceria com a China no desenvolvimento da família de satélites CBERS permitiu que nossa indústria espacial desenvolvesse tecnologias inovadoras e formasse recursos humanos qualificados numa área dominada por poucos países.
Em parceria com a Itália, o Brasil se lançará na promoção e desenvolvimento da Iniciativa Open Universe, visando expandir a acessibilidade a dados de ciências espaciais, contribuindo assim para a democratização dos benefícios da exploração espacial e o desenvolvimento igualitário das nações.
O Brasil se orgulha de ter sido um dos países fundadores do Copuos, estabelecido pelas Nações Unidas em 1958. Em 1967, no Tratado do Espaço, os países comprometeram-se com a realização das atividades espaciais em benefício de toda a humanidade. Desde então, essa é a visão que orienta o programa espacial brasileiro, que foi reafirmada e reforçada neste mês durante a Cúpula do Unispace+50.