Animações nacionais crescem com incentivos e novas plataformas
Uma combinação de demanda por produções nacionais gerada pela Lei da TV Paga, que entrou em vigor em 2012, e a ampliação de iniciativas públicas de financiamento fez com que o Brasil vivesse um boom de produtoras de animação. No ano passado, foram lançados sete longas do gênero —o recorde anterior era de quatro filmes em 2014.
Na TV por assinatura, que hoje precisa exibir ao menos três horas e meia diárias de conteúdo nacional, as animações movimentaram R$ 1,5 bilhão em 2016 e, no mesmo ano, foram responsáveis por 25% da bilheteria dos cinemas.
“A demanda está cada vez maior. Há uma atenção crescente de agências, anunciantes e plataformas de streaming, como a Netflix, por esse tipo de conteúdo, o que cria espaço para novos negócios”, diz Odete Cruz, gerente-executiva da Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais (Apro).
Empreender com animação, no entanto, exige investimento alto. Segundo o Sebrae, para montar uma estrutura mínima de uma produtora que atenda as demandas de canais de TV e de agências, com pranchetas, impressoras a laser, computadores e mesa digitalizadora é preciso investir cerca de R$ 65 mil. Se for focada em animação 3D, é mais custoso.
“O pequeno empreendedor pode começar a montar seu portfólio e prestar serviços menores no próprio quarto de casa. Ele só terá que ter um bom equipamento, pagar as licenças dos softwares e investir na sua capacitação, em cursos e workshops”, diz Odete.
Para financiar seu primeiro projeto próprio, a série “Oswaldo”, exibida desde o ano passado no canal pago Cartoon Network e na TV Cultura, Luciana Eguti e Paulo Muppet, donos da produtora Birdo, usaram dinheiro do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Desde sua implantação, em 2007, o fundo investiu mais de R$ 109 milhões em produções de animação.
“Apesar de hoje não usarmos tanto o fundo, ele representa um benefício muito grande para o mercado. Na época do primeiro projeto próprio, a gente não teria acesso a um orçamento maior. Éramos muito pequenos, sem investidores”, diz Luciana. “Conseguimos fazer nossa primeira série graças a esse fomento.”
A partir daí, a Birdo passou a se envolver em projetos maiores. A empresa foi a criadora dos mascotes dos Jogos Olímpicos, Tom e Vinicius, e já prestou serviços de animação para uma série da franquia Star Wars, publicada no canal do YouTube da Disney.
Hoje, a Birdo conta sempre com quatro ou cinco projetos em desenvolvimento ao mesmo tempo, seja para clientes externos ou conteúdo próprio. “Escolhemos manter o negócio dessa forma porque um projeto grande, com 26 episódios de 11 minutos, que é o tamanho comum de uma série de TV, demora de 18 a 24 meses para ficar pronto. Então, precisamos diversificar a produção para manter um bom fluxo de caixa”, explica.
Quem trabalha na área hoje deve pensar em várias plataformas, com episódios mais longos para a TV, outros mais curtos para internet, além de conteúdo exclusivo para aplicativos e games. “E temos também as plataformas de streaming que estão com alta demanda por conteúdo”, diz.
Para conseguir acompanhar essas mudanças, Luciana alerta que é preciso buscar por parcerias. “Uma empresa sozinha não consegue dar conta de tudo. Existe, inclusive, uma aproximação cada vez maior entre o mercado de animação e a indústria de games.”
Para Guille Hiertz, um dos sócios da produtora de animação Split Filmes, todo projeto em animação feito hoje precisa ser multiplataforma. “É preciso capitalizar o conteúdo em todas mídias. Por ano, nós produzimos uma média de 600 minutos de animação de séries, filmes e jogos. O futuro está nessa integração”, diz.
É preciso, porém, misturar formatos com cuidado. A Split, que já produziu para marcas como Seninha, Turma da Mônica e animou o filme “Tito e os Pássaros”, ganhador do Anima Mundi, começou a produzir jogos em 2012, investindo em games desenvolvidos com a linguagem flash.
“Até que, em 2013, o Google matou o flash na internet. Foram dois anos de investimento e estudo perdidos, então é preciso acompanhar o setor e se preparar para eventuais mudanças”, afirma Guille.
Quem ainda não tem um bom portfólio para ingressar nas séries pode iniciar com prestação de serviços para outras produtoras ou agências de publicidade, ao mesmo tempo em que são feitos projetos próprios que podem ser inscritos em premiações.
Também é essencial participar de eventos da área. “Nesse setor, é preciso trabalhar as relações com outros profissionais, pois muitos projetos surgem assim. É preciso participar dos congressos, feiras e exposições, além de ficar atento aos editais de financiamento e concursos.”