Antes de Daniel Alves, São Paulo teve sucesso com veteranos
Capitão e campeão da Copa América com a seleção brasileira e maior colecionador de títulos da história do futebol. Se há algum porém na contratação de Daniel Alves pelo São Paulo, anunciada nesta quinta-feira (1º), é a idade avançada, 36 anos.
Mas a história do clube do Morumbi mostra que a chegada de estrelas que superaram a barreira dos 30 anos deu mais certo do que errado. A começar por um argentino que, na década de 1940, chegara para ser campeão e se tornar ídolo.
Antonio Sastre (1911-1987) é lembrado até hoje por torcedores do Independiente (ARG) como um dos maiores jogadores da história do clube de Avellaneda. Com passagem pela seleção argentina, foi contratado pelo São Paulo em 1943, prestes a completar 32 anos de idade.
Dizia-se que os tricolores haviam trazido um bonde. Circulava entre os rivais, inclusive, a piada de que sua vinda se tratava de um "Desastre", uma brincadeira com seu nome. Na imprensa, a Folha da Manhã parecia ser um dos únicos veículos a enxergar com otimismo o reforço.
"Sem dúvidas que o famoso ex-integrante do selecionado argentino, campeão nacional e internacional numerosas vezes, em pelejas das mais memoráveis, será de alta e indiscutível valia para o conhecido clube paulista. Trata-se de um 'crack' consumado", publicou o jornal na edição de 31 de março de 1943.
Antonio Sastre transformou-se, de fato, em uma grande jogada da diretoria são-paulina.
Atleta multifuncional, foi determinante para os títulos do Campeonato Paulista em 1943, 1945 e 1946. Além das conquistas, também entrou para a história como o maior artilheiro tricolor em um único jogo: anotou seis gols em goleada de 9 a 0 sobre a Portuguesa Santista, em 1943.
Na década de 1950 e com os mesmos 36 anos de Daniel Alves, o meia Zizinho (1921-2002) já havia construído carreira vitoriosa no futebol antes de chegar ao São Paulo. Vice-campeão mundial com a seleção brasileira na primeira Copa do Mundo disputada no Brasil, foi ídolo no Flamengo, onde jogou por mais de uma década, e no Bangu, camisa que vestiu pro sete temporadas.
Contratado pelo São Paulo em 1957, usou sua experiência para liderar o time na conquista do Paulista daquele ano, sob o comando do técnico húngaro Béla Guttmann.
Sua estreia, no dia 10 de novembro, contra o Palmeiras, terminou em goleada são-paulina por 4 a 2. Com o novo camisa 10, o São Paulo não perderia mais até o fim do campeonato (10 vitórias e dois empates), consumado com o triunfo por 3 a 1 sobre o Corinthians, no Pacaembu, em 29 de dezembro de 1957.
A última aposta de risco que se provou positiva para o São Paulo aconteceu já na década de 1990, uma aquisição que chegou para ajudar o Telê Santana, que conquistaria o bicampeonato mundial.
Derrotado com a Sampdoria (ITA) na final da Champions League de 1992 para o Barcelona de Cruyff, Toninho Cerezo chegou ao São Paulo no segundo semestre daquele ano, com a equipe recém-campeã da Libertadores, o que o levou a Tóquio para vingar a derrota diante dos catalães no torneio europeu.
No ano seguinte, faturou Libertadores e um novo Mundial, desta vez contra o Milan (ITA), marcando um dos gols na vitória por 3 a 2 sobre os italianos.
"Houve uma campanha enorme para me tirar do time por causa da idade. Mas eu mostrei mais uma vez no jogo de hoje que ainda vale a pena contar comigo, o último dos moicanos", afirmou o veterano volante, após a conquista no Japão.
Cerezo deixaria o Morumbi em 1995 com títulos do Campeonato Paulista (1992), da Libertadores (1993), dois Mundiais (1992 e 1993), da Recopa (1993) e da Supercopa (1993).
Apesar do histórico mostrar casos de sucesso na repatriação de jogadores mais velhos, houve situações em que o clube do Morumbi também não teve o retorno esperado. Como a vinda de Paulo Roberto Falcão, ídolo do Internacional e da Roma (ITA), em 1985, com quase 32 anos de idade.
Com a equipe tricolor, o volante da seleção brasileira atuou somente em 15 partidas, muito pela insistência —ou teimosia— do técnico Cilinho, que preferia o marcador Márcio Araújo. Falcão seria campeão estadual com o São Paulo em 1985, mas deixou apenas lampejos de sua qualidade na memória do torcedor.
Mais recentemente, duas apostas em jogadores que, assim como Daniel Alves, tiveram trajetória longeva e de sucesso na seleção brasileira, não deram certo.
Aos 38 anos, o pentacampeão mundial Rivaldo assinou com o clube em 2011. Logo na estreia, diante do Linense, no Morumbi, anotou um gol de placa, com chapéu no zagueiro, que lembrou os dias mais gloriosos de sua carreira.
Mas sua passagem ficou basicamente restrita a atuações e gols esporádicos, mas também a um problema com o técnico Paulo César Carpegiani, que o próprio camisa 10 escancarou após a eliminação para o Avaí na Copa do Brasil, em Florianópolis, jogo do qual Rivaldo não participou por decisão do treinador. Nem mesmo a demissão de Carpegiani, substituído por Adilson Batista, melhorou o nível do meio-campista na temporada.
Ao fim de 2011 o meia, melhor jogador do mundo em 1999, segundo a Fifa, se despediu do time.
Colega de Rivaldo no elenco pentacampeão em 2002, o zagueiro Lúcio foi outro a vestir a camisa tricolor sem deixar saudades nos são-paulinos. Prestes a completar 35 anos, chegou em 2013 e, da mesma forma que o meio-campista dois anos antes, sua passagem ficou marcada por problemas.
Substituído no segundo tempo da derrota por 2 a 1 para o Arsenal (ARG) na fase de grupos da Copa Libertadores. Depois da partida, enquanto o elenco e o técnico Ney Franco conversavam no vestiário do estádio Julio Grondona, Lúcio já estava no ônibus, sozinho, pois decidiu não esperar os companheiros. Episódio que forçou um pedido público de desculpas do zagueiro.
Na mesma Libertadores, no duelo pelas oitavas de final contra o Atlético-MG, no Morumbi, o experiente defensor foi expulso ainda no primeiro tempo do jogo. O São Paulo vencia por 1 a 0, mas não suportou a perda de um jogador e levou a virada de 2 a 1. Na volta, em Belo Horizonte, foi derrotado por 4 a 1 e caiu no torneio continental.
Em janeiro de 2014, após uma temporada de atuações ruins, Lúcio rescindiu com o clube e, na sequência, assinou com o Palmeiras, onde também não teve sucesso.