App de encontros quer formar casais de 'profissionais ambiciosos' em SP
Drinks à vontade e com nomes sugestivos como Love Is In The Air e Perfect Match turbinaram uma festa de solteiros paulistanos acima dos 30 na noite chuvosa e congestionada da última terça (9).
A 900 metros do JK Iguatemi, o aplicativo de paquera The Inner Circle fez sua festa de estreia em São Paulo. Sob o slogan “Selective Dates” (encontros seletivos, em inglês), o app quer atrair um público parecido com aquele que vai às lojas de grife ou trabalha no centro empresarial ao redor do shopping.
Com exceção de alguns poucos convidados, quatro influencers e dois ex-Big Brothers, todos na festa eram usuários do aplicativo. Além do open bar, o segundo atrativo (da noite e do app) era conhecer o crush ao vivo.
“É bem aplicativo mesmo, todo mundo se olha, mas ninguém se fala”, afirmou uma das presentes, que estava lá com outras duas amigas e não quis dizer o nome.
Era fácil reconhecer um pretendente. Assim como as fotos usadas no app, a grande maioria dos homens estava de camisa. As mulheres também seguiam um padrão, cabelos lisos ou com ondas de baby-liss e bem maquiadas. Nas palavras disponíveis no app para auto-descrição, grande parte dos presentes tinham corpos “atléticos ou magros”.
O ambiente separado do restante do bar estava cheio. “É porque a gente pagou antes, se não, eu não teria vindo”, disse uma moça, uma das poucas na área para fumantes. O convite da festa custou US$ 30 --sim, dólares, pagos com cartão de crédito internacional ou PayPal. O aplicativo não aceita a moeda nacional.
Ao contrário dos aplicativos de paquera mais tradicionais, como Tinder e Happn, o The Inner Circle não quer ter usuários, mas um grupo seleto de “solteiros inspiradores”, segundo o próprio site da empresa.
“Nós fazemos uma triagem. Queremos ter certeza absoluta que as pessoas que têm conta são profissionais de alto escalão, com carreiras consolidadas”, afirma David Vermeulen, presidente e criador da rede.
Nível de escolaridade e a profissão são eliminatórios. Motoristas de Uber ou faxineiras não são bem-vindos no app. Usando a busca da versão Premium, a reportagem contou, entre os usuários homens e heterossexuais, 29 jornalistas, 41 professores, 129 advogados, 59 CEOs e 99 empresários.
Segundo levantamento da empresa, as áreas de atuação profissional mais comuns entre as mulheres paulistanas cadastradas no app são medicina, marketing e direito. Já os rapazes, trabalham no mercado financeiro, com tecnologia ou são engenheiros. Na festa no Itaim Bibi, muitos pareciam terem ido direto do escritório.
Vermeulen nega, porém, que o app seja elitista. Ele diz selecionar novos usuários baseado nos dados de quem já está no aplicativo e, assim, oferecer apenas pessoas que estão no mesma fase da vida.
A seleção é feita automaticamente por inteligência artificial –se for preciso, recorre-se ao trabalho humano. Dados do Facebook ou LinkedIn (usados no cadastro) servem de base para dividir quem está ou não de acordo com aplicativo.
Nível educacional (básico, médio, superior, bacharel, mestrado, pHD), idade, profissão, número de amigos nas redes e localização entram na conta.
O sistema também analisa as imagens dos interessados. Foto sem camisa, selfie no banheiro ou com filtro de cachorrinho são descartadas.
A reportagem encontrou alguns descamisados entre os homens solteiros de São Paulo. Vermeulen diz que a filtragem acontece na hora do cadastro e, depois de aceitas, as pessoas mudam as fotos. “Estamos trabalhando em cima disso”, afirma.
Para ele, um tipo ideal para o The Inner Circle seria alguém profissionalmente bem posicionado, mente aberta e que goste muito de viajar e frequentar lugares novos e bacana.
Em uma das abas do app, o usuário pode escolher o próximo destino da sua viagem, como Londres, Nova York ou Bali, e se conectar com outros membros do app que irão para o mesmo destino.
O app também indica lugares para os casais em potencial se conhecerem pessoalmente. Há casas luxuosas como Skye (no alto do hotel Unique) ou o restaurante D.O.M (do chef Alex Atala), e espaços modernetes, como o bar Piticos (em Pinheiros) e Mercearia (vila Madalena). Todos os lugares foram indicados por paulistanos que já usam o app.
São cerca de 25 mil usuários do The Inner Circle na cidade, outros 25 mil estão na lista de espera. “A gente diz lista de espera, mas significa que elas não foram aprovadas”, afirma Vermeulen. O anúncios do app começaram a ser vinculados nas redes sociais em novembro.
A faixa etária por aqui, 34 anos, é mais alta que em outras cidades do mundo. A necessidade de óculos de leitura para escolher os drinks do cardápio do bar revelava que alguns ali já haviam passado dos 30 há um tempinho.
Assim como a profissão, dinheiro importa para o The Inner Circle. Para Vermeulen, quando as pessoas precisam pagar pelo serviço ou, ao menos, fazer com que amigos se cadastrem, elas levam o app mais a sério e se esforçam mais na busca por um match.
Para saber quem piscou virtualmente para você é preciso assinar o app. O pacote mensal VIP sai por R$ 79,90 –o preço cai conforme aumenta o número de meses da assinatura. O usuário Premium, R$ 119 por mês, tem acesso completo aos outros membros e pode saber quem viu (e curtiu) seu perfil –mesmo se o ‘like’ não for recíproco.
O cadastro é gratuito e também dá para navegar entre as fotinhos sem pagar nada.
Caso queira mandar uma mensagem para alguém que despertar seu interesse, é preciso ser assinante ou indicar mais dois amigos que devem se cadastrar.
O app foi criado por Vermeulen, em 2012, depois que ele experiências ruins com sites de namoro. “As pessoas nem usavam os nomes reais, apenas apelidos como CoelhinhaGostosa69”, diz. Ele conta que o objetivo inicial do The Inner Club, que perdura até hoje, é reunir gente que busca de relacionamentos sérios.
A expansão para cidades fora da Europa veio como consequência da necessidade de manter um grupo seleto. “Eu não queria subir o preço e não tinha mais para onde crescer em Amsterdã ou em Londres. Nós não estamos interessados em quantidade. Deixa isso para o Tinder”, diz.
O empresário define o app da mesma maneira que um estilista fala sobre peças feitas à mão: o foco é ter mais qualidade e menos quantidade. No caso, ao invés de camisas de linho, são pessoas reais.