Apple e Samsung apostam em aparelhos mais caros e serviços contra queda nas vendas
Nesta semana, a Apple anunciou que seu lucro cresceu e chegou a US$ 11,5 bilhões no segundo trimestre do ano, ante US$ 8,7 bilhões do mesmo período de 2017.
Já a Samsung, que teve lucro de R$ 50,1 bilhões, registrou a primeira queda em sete trimestres.
As duas concorrentes enfrentam um mercado que, mundialmente, tem visto o interesse do consumidor em adquirir os aparelhos mais recentes e mais caros diminuir continuamente.
O atrativo de smartphones mais rápidos, mais finos e mais leves costumava gerar uma corrida às lojas em busca dos modelos mais recentes.
A resposta das duas empresas à falta de apetite do mercado foi apostar em aparelhos de nível premium e mais caros (iPhone X e a linha S9).
Nos dois últimos anos, mesmo os smartphones premium perderam parte de seu poder de atração, e os consumidores estão optando por manter seus celulares por mais tempo, ao invés de de substitui-los.
Tanto a Apple quanto a Samsung reagiram com a oferta de modelos mais caros.
A Samsung, maior concorrente da Apple nos smartphones, mencionou a maior demora entre atualizações como motivo para que seus principais modelos não atingissem as metas de vendas, em seu anúncio de resultados trimestrais na segunda-feira.
A unidade de aparelhos móveis da empresa registrou queda de 22% na receita de vendas, para US$ 20,2 bilhões, ante o mesmo período no ano passado.
A Apple se saiu bem melhor do que a rival, com o iPhone produzindo receita de US$ 29,9 bilhões, e receitas totais de US$ 53,3 bilhões para o grupo.
O celular representa 56% da receita da Apple.
"Nossos resultados do terceiro trimestre foram propelidos por vendas fortes continuadas para o iPhone e para as divisões Services e Wearables", anunciou o presidente-executivo da empresa, Tim Cook, em comunicado.
As ações da Apple subiram em quase 3% depois do fechamento dos mercados, ante uma cotação de fechamento de US$ 190,29 —o que aproximou a companhia de sua meta de uma capitalização de mercado de US$ 1 trilhão.
A Apple projetou uma receita de entre US$ 60 bilhões e US$ 62 bilhões no próximo trimestre, excedendo as expectativas dos analistas, que eram de US$ 59,6 bilhões.
Samsung e Apple tentaram combater a desaceleração em suas vendas por meio da oferta de celulares mais caros, que propiciam lucros maiores. Mas essa estratégia tem seus percalços.
A Samsung reconheceu que precisa seguir dois caminhos distintos para promover o crescimento de seus negócios com aparelhos móveis, em seu anúncio de resultados.
"Também buscaremos mais competitividade de preços e desenvolveremos ativamente a tecnologia avançada, em nossos modelos voltados ao mercado de massa, a fim de responder de maneira agressiva às condições do mercado", disse Lee Kyeong-tae, vice-presidente de comunicações móveis da Samsung, a investidores, na segunda-feira.
A Apple historicamente mantém seus preços dos seus aparelhos e também dos seus produtos nível premium. Os analistas antecipam que a empresa lance três modelos novos, para o quarto trimestre, em um esforço para diversificar sua linha e convencer os usuários que ainda não adquiriram um iPhone 8 ou iPhone X que é hora de trocar de aparelho.
Os smartphone continuam a responder por porção generosa das receitas das duas empresas, e devem gerar US$ 78 bilhões em 2018, de acordo com uma nova estimativa da Consumer Technology Association.
OUTROS SERVIÇOS
Tanto Apple e Samsung também buscam crescimento em outras áreas de seus negócios. A Samsung alardeou os resultados de suas operações de chips, que estão em crescimento: os semicondutores foram sua categoria mais forte em termos de crescimento.
A Apple, enquanto isso, colocou seu foco nos serviços, como a App Store, e em suas operações de entretenimento (iTunes e Apple Music), como propulsores de crescimento.
No último trimestre, a divisão de serviços da Apple registrou receita de US$ 9,5 bilhões, o que a torna a segunda maior área de negócios da empresa. A divisão dos computados Mac, que vem atraindo queixas dos consumidores, reportou queda de vendas de 5%.
Os resultados demonstram que a Apple está posicionada para manter o crescimento de seus negócios apesar das vendas mais lentas de smartphones, disse Gene Munster, analista veterano da Apple e fundador da Loup Ventures.
"Os números mostram que eles têm tudo sob controle", disse o analista. Mesmo quanto ao hardware, os números provam que a estratégia da Apple está funcionando.
Além do comportamento dos consumidores, também existem preocupações de que as extensas operações industriais da Apple no exterior sofram com as disputas comerciais entre os Estados Unidos e a China.
Os analistas acautelaram que não está claro ainda de que maneira os conflitos comerciais afetarão os fabricantes de smartphones. Em nota de pesquisa divulgada antes dois anúncios de resultados, Andy Hargreaves, da KeyBanc Capital Markets, disse que "o risco de um impacto direto dos conflitos comerciais ou de um nacionalismo mais forte entre os consumidores estrangeiros, que prejudique a demanda internacional pelo iPhone", poderia contrabalançar os potenciais ganhos da Apple.
Tradução de PAULO MIGLIACCI