Após acerto com russo, bilionário americano assume Arsenal
O magnata russo Alisher Usmanov fechou acordo na terça-feira para vender seus 30% de participação no Arsenal, de Londres, ao detentor da maioria das ações do clube, o bilionário americano Stan Kroenke, o que poria fim a anos de desentendimentos. O acordo avalia o clube da Premier League inglesa em US$ 2,3 bilhões (R$ 8,7 bilhões).
Kroenke e Usmanov passaram anos lutando pela supremacia no Arsenal, adquirindo ações sempre que uma oportunidade surgisse, e a transação abre caminho para que Kroenke feche o capital do clube, uma manobra que Usmanov bloqueou por muito tempo ao se recusar a vender suas ações.
Kroenke, cuja família também controla diversas equipes esportivas nos Estados Unidos, entre as quais o Los Angeles Rams, na NFL, e o Denver Nuggets, na NBA, terminou derrotando o rival em julho de 2011, e a Usmanov restou pouco mais que resmungar nas laterais ou curtir a raiva no camarote de luxo que ele mantém no estádio do Arsenal.
Usmanov aceitou uma oferta de 550 milhões de libras (R$ 2,6 bilhões) em dinheiro, que dá a Kroenke mais que os 90% das ações do clube requeridos para permitir a aquisição das ações restantes, informou a KSE, a empresa de investimento de Kroenke.
Usmanov passou anos criticando a forma pela qual o Arsenal era administrado, se queixando frequentemente, em cartas abertas, sobre a estratégia e a orientação do clube sob o comando de Kroenke, e havia expressado o desejo de tomar controle completo da equipe de forma que permitisse que investisse mais de seu dinheiro, para que o clube pudesse competir pelos principais troféus do futebol.
Não se sabe ao certo porque Usmanov, que ocupa o 118º posto no ranking mundial de riqueza da revista Forbes, enfim decidiu vender as ações que detinha no clube.
No ano passado, ele chegou a oferecer um bilhão de libras pelas ações de Kroenke no Arsenal. Poucos meses mais tarde, Usmanov rejeitou uma oferta de 525 milhões de libras por suas ações - apenas ligeiramente mais baixa que o valor que ele enfim aceitou.
"Sempre fui e continuarei a ser torcedor ardoroso do Arsenal, e vejo minha participação de 30% como aspecto importante de proteger os melhores interesses dos torcedores do clube", disse Usmanov na época.
Ao anunciar os termos do acordo na terça-feira, a KSE informou que a venda facilitaria realizar a estratégia e as ambições do clube, permitindo que este agisse de maneira mais decidida do que no passado. Mas a Arsenal Supporters Trust, organização que representa os pequenos acionistas do Arsenal, descreveu o anúncio como "um dia pavoroso".
"Permitir que Stan Kroenke feche o capital do clube será o fim dos torcedores que são acionistas do Arsenal, e de seu papel como defensores dos valores do clube", a organização afirmou em comunicado.
Na forma de empresa de capital fechado, o clube não terá mais de realizar assembleias anuais de acionistas, que em muitas ocasiões serviram como foro para que pequenos acionistas fizessem perguntas desconfortáveis aos gestores.
A saída de Usmanov chega em um momento de grandes mudanças para o Arsenal. Esta será a primeira temporada do clube em mais de duas décadas sob o comando de outro treinador que não Arsène Wenger, que pediu demissão e foi substituído em maio por Unai Emery.
O clube, cujo último título na Premier League aconteceu em 2004, se preparou para a saída de Wenger reformulando suas operações futebolísticas, contratando executivos de primeira linha de clubes europeus importantes, entre os quais o Barcelona e o Borussia Dortmund.
Mas restam incertezas. Ivan Gazidis, o presidente-executivo do clube e responsável por muitas das mudanças, aceitou uma proposta para comandar o Milan.
Usmanov é muito próximo ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, e esse relacionamento começou a atrair mais atenção no Reino Unido com a deterioração dos laços entre os dois países, depois do envenenamento de um antigo espião russo e sua filha, em março na Inglaterra.
A primeira-ministra britânica, Theresa May, atribuiu a culpa pelo ataque a Moscou, e ameaçou agir contra russos ricos instalados na Inglaterra e conectados ao presidente, Roman Abramovich, russo que é coproprietário do Chelsea e também é amigo próximo de Putin, não pôde assistir à final da F.A. Cup, vencida por seu time em maio, porque as autoridades britânicas postergaram a renovação de seu visto como investidor.
A venda da participação de Usmanov no Arsenal também causa especulação sobre outro clube da Premier League com o qual ele tem conexões. Farhad Moshiri, cuja riqueza deriva em larga medida de seu envolvimento no império empresarial de Usmanov, de quem ele é sócio há muito tempo, assumiu o controle do Everton, um clube de Liverpool, em 2016.
A holding de Usmanov, USM, rapidamente se tornou grande patrocinadora do clube, que foi um dos grandes investidores em novos jogadores na atual janela de transferências da Premier League. O Everton também tem planos de construir um novo estádio.
A Premier League proíbe que um mesmo empreendedor controle dois clubes, e por isso Usmanov não podia investir no Everton enquanto mantivesse sua participação no Arsenal. Usmanov e Moshiri foram coproprietários da participação de 30% no Arsenal, por algum tempo, antes que Moshiri vendesse suas ações de forma a liberá-lo para investir no Everton.