Após críticas a general, Bolsonaro diz que não regulamentará mídias sociais

Em um novo capítulo das disputas dentro do governo, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou neste domingo (5) que não pretende regulamentar nem os veículos de comunicação nem as mídias sociais.

Em mensagem publicada em sua conta oficial no Twitter, ele escreveu que recomenda "um estágio na Coreia do Norte ou em Cuba" para quem defender uma espécie de controle do conteúdo divulgado.

"Em meu governo, a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba", afirmou.

A publicação, de acordo com assessores presidenciais, foi uma resposta a críticas feitas nas redes sociais a uma declaração do ministro da Secretaria de Governo, Carlos Santos Cruz.

O general é alvo de forte campanha de detração nas redes sociais, capitaneada pelo escritor Olavo de Carvalho há dias. A Secom (Secretaria de Comunicação Social) está subordinada à pasta dele. 

Santos Cruz concedeu entrevista no início de abril à rádio Jovem Pan na qual comentou sobre a necessidade de evitar distorções nas redes sociais.

Ele afirmou ainda que a influência das mídias sociais é benéfica, mas também pode "tumultuar". Para ele, é necessário ter cuidado com a sua utilização, evitando ataques e o seu uso como "arma de discórdia".

"As distorções e os grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra, da ponta leste ou da ponta oeste, isso aí têm que ser tomado muito cuidado, tem que ser disciplinado. A própria legislação tem de ser melhorada", disse.

Um trecho da entrevista foi pinçado pelo humorista Danilo Gentili no fim da manhã deste domingo. Em um post também no Twitter, ele lançou dúvidas se a fala do ministro abriria caminho para a regulação das mídias sociais. 

O que se seguiu foi uma série de posts da família Bolsonaro sobre o assunto e de simpatizantes do presidente, que chegavam a pedir a saída do general do cargo.

O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) resgatou um discurso dele sobre o assunto e escreveu: "Mesmo ao falar de uma fake news contra Bolsonaro sempre defendemos a não regulamentação da internet ou da imprensa. A melhor pessoa para fazer esse filtro é você".

Cerca de uma hora depois, Carlos Bolsonaro, filho que acessa as redes do presidente, postou: "A internet 'livre' foi o que trouxe Bolsonaro até a Presidência e graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!".

O escritor Olavo de Carvalho, um dos gurus do presidente, foi explícito ao endereçar as críticas. "Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca, seu merda", escreveu.

A comunicação do Palácio do Planalto tem sido palco desde o início do governo de uma disputa entre o núcleo militar e os chamados "olavistas", seguidores do escritor.

No mês passado, Santos Cruz desautorizou pedido feita pela Secom para que as empresas estatais enviassem para avaliação prévia propagandas de perfil mercadológico.

O gesto foi interpretado por assessores palacianos como a primeira crise entre o militar e o empresário Fábio Wajngarten, que assumiu recentemente a Secom na tentativa de melhorar a comunicação do governo.

Funeral

Mais cedo, durante a tarde, Bolsonaro compareceu ao enterro da mãe de um ex-assessor no cemitério Campo da Esperança, em Brasília. Antes, cumprimentou apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência.

O enterro foi da mãe do ex-assessor Eduardo Guimarães, Teresa Cristina. Guimarães assessorou Bolsonaro na Câmara dos Deputados até o ano passado. No enterro, o presidente se emocionou, ficou abraçado à família e não falou com jornalistas.

Em frente ao Alvorada, antes de ir para o cemitério, Bolsonaro foi questionado por jornalistas sobre se desistiu de ir a Nova York por causa das críticas feitas a ele pelo prefeito da cidade, Bill de Blasio.

O presidente respondeu apenas que vai aos Estados Unidos, mas não disse em qual data nem em quais circunstâncias.

Bolsonaro também disse a um apoiador, em frente ao palácio, que na próxima terça-feira (7) vai assinar um decreto sobre munição.

Colaboraram Natália Cancian e Reynaldo Turollo Jr., de Brasília

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