Após demitir diplomata, Itamaraty adia palestra de sogro de Ernesto Araújo
O ministério das Relações Exteriores adiou uma palestra que o embaixador aposentado Luiz Felipe Seixas Corrêa, sogro do chanceler Ernesto Araújo, daria no Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri) na próxima sexta-feira (8). O instituto é um centro de estudos vinculado ao Itamaraty.
O adiamento da conferência ocorre em meio à polêmica aberta com o anúncio da demissão, na segunda-feira (4), do diretor do Ipri, embaixador Paulo Roberto de Almeida, que havia republicado em seu blog pessoal textos críticos ao atual ministro das Relações Exteriores.
Seixas Corrêa foi secretário-geral da pasta (o principal cargo da carreira diplomática) em duas ocasiões, sendo a mais recente delas entre 1999 e 2001, no governo Fernando Henrique Cardoso. A palestra seria a primeira aparição pública de Seixas Corrêa desde que Araújo foi indicado ministro das Relações Exteriores pelo presidente Jair Bolsonaro.
O evento no Ipri já estava confirmado e as inscrições estavam abertas para os interessados. Nesta quarta-feira (6), a Funag (Fundação Alexandre de Gusmão), entidade do ministério de Relações Exteriores que alberga do Ipri, enviou um comunicado aos inscritos informando sobre o adiamento. Sem dar justificativas, o comunicado diz apenas que a fundação "informará, oportunamente, nova data para a sua realização."
Por meio da sua assessoria de imprensa, o ministério das Relações Exteriores disse que a troca de data ocorreu a pedido da pasta. "Como o Ipri está temporariamente sem diretor, suas atividades estão momentaneamente suspensas até a designação de novo titular e a aprovação do programa de trabalho do instituto para este ano, o que ocorrerá durante sessão do Conselho Superior da Funag, a reunir-se em breve", disse o Itamaraty.
A exoneração de Paulo Roberto foi anunciada nesta segunda. Ele publicou, no mesmo dia, três textos sobre a crise na Venezuela: um assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, outro pelo embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero e o terceiro por Araújo. Tanto FHC quanto Ricupero tecem críticas em seus textos à política externa atual.
Já Araújo, em seu texto, critica as posições de FHC e Ricupero sobre a situação venezuelana, afirmando que os dois "escreviam seus artigos espezinhando aquilo que não conhecem, defendendo suas tradições inúteis de retórica vazia e desídia cúmplice”.
No final de fevereiro, o embaixador agora demitido havia publicado um texto crítico ao escritor Olavo de Carvalho, um dos padrinhos políticos da indicação de Araújo para o ministério das Relações Exteriores. Almeida foi comunicado da dispensa por telefone pelo chefe de gabinete de Araújo, Pedro Wollny.
Sobre a exoneração, o Itamaraty afirmou que a mudança da diretoria do Ipri, “no contexto da troca da grande maioria das chefias do ministério das Relações Exteriores, já estava decidida e foi comunicada ao atual titular.”
Próximo a Araújo, o assessor da Presidência da República para assuntos internacionais, Felipe Martins, negou, no Twitter, que Paulo Roberto tenha sido demitido por publicar textos críticos ao governo. "Nada mais falso. Sua exoneração, que já era prevista, apenas foi antecipada —e o foi em razão de uma série de ofensas pessoais e não por qualquer tipo de divergência", escreveu Martins.