Após morte de aliado de Sisi, polícia egípcia mata centenas de militantes
No verão de 2017, os primos Souhail Ahmed e Zakaria Mahmoud partiram de suas casas para passar um feriado em uma praia na península do Sinai. Cinco dias depois, o Ministério do Interior do Egito anunciou em uma rede social que os meninos estavam entre quatro militantes islamitas mortos em um confronto com a polícia.
As famílias dizem que a versão do governo não faz sentido. Segundo um parente, Mahmoud era carpinteiro e não apoiava nenhuma organização política.
Entre julho de 2015 e dezembro de 2018, em 108 tiroteios que envolveram a polícia egípcia, apenas seis de 471 suspeitos sobreviveram —uma taxa de morte de 98,7%.
O governo egípcio não respondeu às perguntas da Reuters sobre os assassinatos.
Em junho de 2015, militantes islâmicos assassinaram o promotor-chefe do Egito Hisham Barakat, aliado do ditador Abdel Fattah al-Sisi. Sisi respondeu com uma forte lei antiterrorista que protegeu a polícia e os militares de processos judiciais.
Organizações de defesa dos direitos humanos dizem que esse foi o início de uma repressão brutal. Nos seis meses anteriores ao assassinato de Barakat, o governo havia registrado apenas cinco mortes de militantes em tiroteios.
Gamal Eid, um advogado da Arab Network for Human Rights Information (Rede Árabe para Informação de Direitos Humanos), afirma que o Egito está preso em um ciclo letal de assassinatos extrajudiciais e ataques de vingança.
Em torno de um quarto das mortes aconteceram na província do Sinais do Norte, que faz fronteira com Israel e Gaza. Lá, o Egito luta há anos contra uma insurgência de militantes islâmicos.
A maioria dos homens mortos tem em torno de 20 anos. O Ministério do Interior do Egito classificou 320 dos assassinados como terroristas, 117 deles como membros da Irmandade Muçulmana.
Fundada em 1928, a organização tem um histórico de ativismo político, mas recentemente foi classificada pelo Egito como organização terrorista. Desde então, a Irmandade, que insiste em seu caráter pacífico, atua clandestinamente.
Quando dois membros do grupo foram assassinados em um apartamento na cidade do Cairo, em 2016, três testemunhas contestaram a explicação do Ministro do Interior de que houve troca de tiros.
Os óbitos são anunciados pelas mídias sociais do governo egípcio e pela agência estatal de notícias. Alguns dos anúncios tem fotos com corpos ensanguentados e rifles de assalto ao lado deles. Outros mostram folhetos do Estado Islâmico.
Um perito forense observou 20 fotografias postadas pelo ministério. Em 11 delas os corpos pareciam ter sido removidos após a morte. Desníveis na areia sugerem que dois dos homens foram executados de joelhos.
O último relatório anual do Departamento de Estado dos EUA sobre direitos humanos no Egito, divulgado em março, afirma que abusos incluem assassinatos arbitrários pelo governo, desaparecimento forçado e tortura.
Os EUA, no entanto, descongelaram US$ 195 milhões em ajuda militar ao país que haviam sido bloqueados por preocupações com violações de direitos humanos.