Após polêmica e atraso, documentário sobre a Chape ainda emociona
No ano em que completa 45 anos de fundação, a Associação Chapecoense de Futebol é homenageada em documentário sobre sua curta trajetória no mundo da bola. E não se trata de um filme sobre futebol.
Em 74 minutos, são poucas as cenas de jogos ou gols, praticamente raros lances do amistoso com o Barcelona. O ponto central é a relação afetiva da população de Chapecó com o clube e, principalmente, o renascimento da Chape após o acidente aéreo nas cercanias de Medellín, na Colômbia, que deixou 71 mortos em novembro de 2016.
“Para Sempre Chape” chega aos cinemas, de forma independente, com quase um ano de atraso. Em outubro do ano passado, a Afav-c (Associação dos Familiares das Vítimas do Voo da Chapecoense) barrou a sua exibição na Justiça, após a viúva e os filhos pequenos de uma das vítimas da tragédia terem sido surpreendidos pelo trailer do longa em uma sala de exibição—a associação desconhecia a produção.
O título original, “O Milagre de Chapecó”, também causou revolta. O clube rescindiu o contrato firmado com a produtora e, após acordo entre todas as partes, em maio deste ano, a película foi liberada.
Nas telas, porém, não há apelo ao sensacionalismo (o avião da LaMia destroçado no morro de Cerro Gordo, por exemplo, foi ignorado) ou exposição exagerada das vítimas do acidente, como temiam as famílias.
Por meio de depoimentos, imagens de arquivo, gravações de TV e de bastidores, o documentário do diretor, roteirista e produtor americano Luis Ara Hermida, radicado no Uruguai, mostra de tudo um pouco: o início provinciano na pequena e isolada Chapecó, os seis títulos estaduais e a ascensão meteórica da Série D à elite do Campeonato Brasileiro em apenas cinco anos, de 2009 a 2013.
A cereja do bolo, claro, é a surpreendente participação da equipe na Copa Sul-Americana e, consequentemente, a queda do avião antes da decisão, que provocou uma comoção mundial.
Apesar das entrevistas realizadas no Brasil e na Colômbia com sobreviventes, jornalistas, dirigentes, autoridades e outros envolvidos na tragédia, o filme não traz novidades —tudo já foi amplamente divulgado.
Ainda assim, o relato da controladora de voo Yaneth Molina sobre procedimentos e a tensão pouco antes da queda ajudam a entender de forma clara e sucinta a série de erros cometidos.
Como aconteceu à época, ainda é difícil segurar as lágrimas ao ser transportado pelo diretor para a Chapecó de novembro de 2016 e sentir novamente a dor da perda de um time que vivia um conto de fadas, a aflição dos familiares, a tristeza da cidade e a imensa solidariedade dos colombianos.Porém
, o grande mérito de Ara talvez tenha sido destacar, mais do que o acidente, a dura batalha diária dos sobreviventes Neto, Ruschel, Follmann e Henzel para retomar a vida. Afinal, assim como a Chape, a tragédia de Medellín ficará marcada para sempre.