Araújo discute crise da Venezuela com EUA pela segunda vez em 10 dias
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, conversou por telefone nesta quinta-feira (9) com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, para tratar mais uma vez da crise que assola a Venezuela.
Essa é a segunda vez em dez dias que o ministro discute o tema com Pompeo —um dos expoentes linha-dura do governo Donald Trump em relação ao regime de Nicolás Maduro.
A postura de Araújo, considerada entusiasta dos americanos, tem preocupado diplomatas brasileiros que atuam no exterior e a ala militar do governo Jair Bolsonaro, contrários à intervenção militar no país latino-americano.
Em nota, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que Araújo e Pompeo "discutiram a crise na Venezuela e enfatizaram seu apoio inabalável ao presidente interino Juan Guaidó, à Assembleia Nacional democraticamente eleita, e ao povo da Venezuela em sua luta para restaurar a democracia e prosperidade no país".
O texto atribuído à porta-voz do departamento americano, Morgan Ortagus, diz ainda que EUA e Brasil reafirmam "a parceria e cooperação para promover a democracia, prosperidade e segurança no hemisfério".
Segundo o Itamaraty, a conversa de ambos tratou de Venezuela, relação bilateral entre os dois países e a preparação da viagem de Bolsonaro, que deve ir ao Texas nos próximos dias.
Na semana passada, Araújo viajou a Washington para se reunir com Pompeo e com o secretário de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, na véspera da tentativa de Guaidó derrubar Maduro com o discurso de que tinha apoio das Forças Armadas —o respaldo, porém, não chegou à cúpula dos fardados e o ditador resistiu no poder.
As reuniões preocuparam diplomatas e militares brasileiros, informados que o chanceler poderia ter aberto a possibilidade do uso de território brasileiro pelos EUA em caso de uma ação militar comandada pelo governo Trump.
No dia seguinte ao encontro de Araújo com a cúpula do governo americano, Bolsonaro comentou em entrevista à Record justamente a ideia de Trump querer usar parte do Brasil para entrar na Venezuela.
"Em ele [Trump], por ventura, querendo usar o território brasileiro, digo o seguinte: convocaria o Conselho Nacional de Defesa, ouviria todas as autoridades, e tomaria uma decisão". O presidente disse que a possibilidade de o Brasil participar de ação militar no país vizinho era "próxima de zero".
O chanceler, por sua vez, afirma que não discutiu o uso do território brasileiro pelos EUA e que suas reuniões com Pompeo e Bolton foram uma atualização dos assuntos tratados durante a visita de Bolsonaro a Washington, em março.
Trump e seus principais auxiliares têm repetido o discurso de que "todas as opções estão sobre a mesa" quando se trata de Venezuela, deixando aberta a possibilidade de uma intervenção no país latino-americano --o que é rechaçado pelos militares aliados a Bolsonaro e parte do Itamaraty.
Por enquanto, Brasil e EUA afirmam que estão mantendo pressões econômicas e diplomáticas sobre o regime de Maduro.
Em discurso no início desta semana durante evento em Washington, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, afirmou que Trump "pode ser ainda mais duro" contra a ditadura venezuelana e anunciou a suspensão das sanções sobre o ex-chefe da inteligência de Maduro —que desertou do regime-- como forma de tentar atrair mais apoio a Guaidó.
Nesta quarta-feira (8), o vice-presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, Edgar Zambrano, número dois de Guaidó no Parlamento, foi preso, o que causou reação dos americanos.
Os interesses de Trump na crise da Venezuela estão centrados na disputa presidencial nos EUA, em novembro do próximo ano. A Flórida, por exemplo, estado considerado crucial para a disputa —no qual Trump venceu em 2016 e lidera as pesquisas deste ano— têm população venezuelana anti-Maduro e é um dos principais focos da campanha à reeleição do presidente.