Arábia Saudita reage às ameaças feitas por Trump no caso do sumiço de jornalista
A Arábia Saudita alertou neste domingo (14) que responderá a todas as "ameaças" contra o país, depois que o mercado acionário despencou após o presidente dos EUA, Donald Trump, prometer "severa punição" pelo desaparecimento do jornalista Jamal Khashoggi.
Trump fez questão de visitar o país em sua primeira viagem ao exterior como presidente e vendeu armas para a Arábia Saudita. Mas tanto a Casa Branca quanto Arábia Saudita estão sob pressão à medida que novas revelações são feitas a respeito do jornalista, que não foi mais visto desde que entrou no Consulado da Arábia Saudita, em Istambul, no dia 2 de outubro.
Khashoggi é colaborador do jornal The Washington Post e crítico do governo saudita. Na sexta-feira (12) o Post publicou que autoridades turcas informaram aos EUA que obtiveram gravações de áudio e vídeo que mostram o interrogatório, a tortura, a morte e o esquartejamento do corpo do jornalista saudita no consulado em Istambul.
A reação do governo saudita veio após investidores e líderes empresariais internacionais se retirarem do fórum de investimento "Davos no Deserto".
"A Arábia Saudita afirma sua rejeição total a quaisquer ameaças e tentativas de enfraquecê-la, seja ameaçando impor sanções econômicas, usando pressões políticas ou repetindo falsas acusações", dizia o comunicado divulgado pela agência estatal de notícias saudita. "O reino também afirma que se receber qualquer punição, responderá com maior ação, e que a economia do reino tem um papel influente e vital na economia global."
A declaração do maior exportador de petróleo do mundo veio depois que a Bolsa de Tadawul, em Riad, caiu 7% em um momento durante o primeiro dia de negociação da semana, com 182 de suas 186 ações listadas mostrando perdas. O mercado recuperou algumas das perdas, fechando 3,5% do dia.
Autoridades turcas disseram acreditar que agentes sauditas tenham matado e desmembrado Khashoggi depois que ele entrou no consulado. Eles se baseiam em gravações de áudio e vídeo que não foram divulgadas. Os sauditas chamaram as alegações de "infundadas", mas não ofereceram nenhuma evidência de que o jornalista tenha deixado o consulado.
Em uma entrevista a ser veiculada neste domingo (14), Trump disse ao programa "60 Minutes", da CBS, que as consequências da participação da Arábia Saudita levariam a "severa punição".
"Há algo realmente terrível e repugnante sobre isso. Se for esse o caso, então vamos ter que ver", disse Trump. "Vamos chegar a uma conclusão disso e haverá uma severa punição."
No entanto, Trump na mesma entrevista disse: “Neste momento, eles negam veementemente. Poderiam ser eles? Sim.”
O príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman tem buscado atrair investidores ao país. Mas o caso do desaparecimento de Khashoggi e as suspeitas de que ele possa ter sido alvo de críticas ao príncipe herdeiro levaram vários líderes empresariais e meios de comunicação a desistirem de uma conferência de investimentos em Riad.
Sem revelar qual punição seria adotada, Trump se resumir a dizer que "nós estaríamos nos punindo" ao cancelar as vendas de armas para a Arábia Saudita. A venda é uma "tremenda ordem para nossas empresas", e se os sauditas não comprarem seu armamento dos EUA, comprarão de outros. Trump disse ainda que se encontraria com a família de Khashoggi.
Khashoggi, que era considerado próximo à família real saudita, tornou-se crítico do atual governo e do príncipe Mohammed, o herdeiro de 33 anos que mostrou pouca tolerância a críticas.
Como colaborador do Post, Khashoggi escreveu extensivamente sobre a Arábia Saudita, incluindo críticas à guerra no Iêmen, a recente disputa diplomática com o Canadá e a prisão de ativistas dos direitos das mulheres após o levantamento da proibição de mulheres dirigirem.
Essas políticas são vistas como iniciativas do príncipe herdeiro, que também presidiu um grupo de ativistas e empresários.
Trump tem criticado a Arábia Saudita, aliada dos EUA no Oriente Médio, e o rei Salman pela alta dos preços globais do petróleo -a cotação está agora em US$ 80 (cerca de R$ 302) por barril, e os preços da gasolina nos EUA subiram.
No início deste mês, Trump sugeriu que o rei da Arábia Saudita poderia não estar lá em "duas semanas" caso não conte com o apoio militar dos EUA.