Ativistas articulam protestos para agenda incerta de Bolsonaro em Dallas

Às vésperas da chegada de Jair Bolsonaro aos Estados Unidos, nesta quarta-feira (15), ativistas brasileiros e americanos preparam novos protestos contra o presidente na tentativa de fazê-lo cancelar uma visita de dois dias a Dallas, no Texas, elaborada às pressas pelo Itamaraty.

Acadêmicos e grupos ligados principalmente às causas LGBT, mulheres, negros e indígenas organizam manifestações e uma petição contra Bolsonaro sob o argumento de que o presidente brasileiro não é bem-vindo no estado americano por suas posições consideradas homofóbicas e racistas.

"A coisa mais importante sobre a petição [que pede o cancelamento da viagem de Bolsonaro a Dallas] é informar ao público texano sobre as atrocidades desse homem, e estamos conseguindo articular isso", disse a americana Ellen Waggoner Roeder, da Universidade do Texas.

Ela integra o movimento "The Lantern" que, juntamente com o "RES-ATX", ambos da cidade de Austin, elaborou a petição. A eles, somam-se outros grupos de Dallas que preparam um ato em frente ao World Affairs Councils, onde Bolsonaro deve almoçar com empresários na quarta e receber uma homenagem da Câmara de Comércio Brasil-EUA.

"Existem vários grupos nos EUA que se colocaram como oposição ou, no mínimo, no monitoramento da política no Brasil. Junto com o The Lantern, formam o US Network for Democracy in Brazil, relacionados a acadêmicos, e são eles que estão organizando as manifestações", afirmou o brasileiro Marcelo Domingos.

 

​ A três dias da chegada de Bolsonaro, aliados do presidente nos EUA ainda não têm detalhes da agenda e nem sobre quem vai acompanhá-lo ao Texas. Eles reclamam da desorganização do governo, que se dividiu sobre o que deveria ser feito após a desistência da viagem a Nova York.

A previsão era que Bolsonaro fosse a Nova York nesta terça (14) para receber o prêmio de "Pessoa do Ano", concedido pela entidade em um jantar de gala que será realizado no hotel Marriott Maquis, na Times Square. 

O presidente, porém, cancelou a viagem após sofrer pressão de políticos americanos e ativistas, e de três empresas —o jornal Financial Times, a companhia aérea Delta Air Lines e a consultoria Bain & Company —desistirem de patrocinar o evento.

O prefeito nova-iorquino, o democrata Bill de Blasio, chamou Bolsonaro de "ser humano muito perigoso" e comemorou a desistência da comitiva brasileira de ir a Nova York. Em nota, o Planalto disse que o cancelamento havia se dado por pressões políticas, principalmente do prefeito.

Em Dallas, até agora, o almoço com empresários no World Affairs Councils é o único compromisso confirmado de Bolsonaro.

A expectativa da cúpula do Itamaraty é que ele se encontre também com o ex-presidente americano George W. Bush, mas a agenda ainda não foi oficialmente confirmada.

Bush é hoje um dos atores políticos dos EUA mais críticos a Donald Trump, com quem Bolsonaro tenta manter um alinhamento quase automático em diversas áreas do governo.

O pai de Bush, o também ex-presidente George H. W. Bush, morto no fim do ano passado, disse que havia votado na democrata Hillary Clinton contra Trump em 2016.

Outra reunião prevista é com o senador republicano Ted Cruz, que já esteve com um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), em Washington no ano passado.

Enquanto a ala militar do Planalto defendia que Bolsonaro não fosse aos EUA de nenhuma maneira esta semana, o ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) trabalhou para articular uma alternativa para que o presidente tentasse fugir dos protestos.

Texas é um estado historicamente conservador e republicano, apesar de o prefeito de Dallas, Mike Rawlings, ser democrata.

Diferentemente de Blasio, Rawlings disse em nota que, apesar de "discordar fortemente" de algumas posições de Bolsonaro, não vai se envolver em disputas políticas públicas.

"Eu tenho um grandes respeito pelo povo do Brasil e não vou me envolver em uma disputa política pública com nenhum líder democraticamente eleito."

A previsão é que estejam na comitiva os ministros Paulo Guedes (Economia), Bento Albuquerque (Minas e Energia), Augusto Heleno (GSI) e o chanceler Ernesto Araújo.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, também pode viajar ao Texas, estado com interesses no setor de petróleo.

A Câmara de Comércio Brasil-EUA manteve o jantar de gala, mesmo sem Bolsonaro, na terça-feira (14) em Nova York. Doze grupos da cidade planejam protestar em frente ao hotel em que será realizado o evento —e seguem em contato com os manifestantes em Dallas.

O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, era o homenageado do lado dos EUA e também não estará presente na cerimônia de premiação.

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