Audiência de confirmação de juiz à Suprema Corte começa com protestos e polarização
A audiência de confirmação do juiz Brett Kavanaugh para a Suprema Corte dos EUA começou por volta das 10h40 no Comitê de Judiciário do Senado com tentativas de adiamento da sessão por parte de democratas, que chegaram a deixar o plenário em protesto, e clima de polarização.
Na quinta, a comissão ouviu depoimentos de Christine Blasey Ford, que acusa o juiz de tê-la atacado sexualmente na década de 1980, e do próprio magistrado.
Ela disse ter 100% de certeza de que ele foi o autor do ataque, e ele negou, de forma agressiva, todas as acusações que pesam contra ele —outras duas mulheres o acusam de algum tipo de delito sexual.
Pouco após o presidente da comissão, Chuck Grassley, abrir a sessão, o senador democrata Richard Blumenthal pediu para que o processo fosse adiado para que Mark Judge, que estaria presente no quarto onde o ataque sexual ocorreu, fosse ouvido.
Grassley, então, leu uma carta escrita por Judge, na qual diz que não se lembra dos eventos descritos pela vítima e que nunca viu Kavanaugh ter comportamentos como os relatados pela professora.
Houve uma votação para saber se a testemunha deveria ser intimada a depor. Por 11 votos a 10, os republicanos conseguiram impedir que a demanda fosse adiante.
Dando continuidade à sessão, Grassley afirmou que achou o depoimento de Ford verossímil, mas o de Kavanaugh, também.
"Simplesmente não há razão para negar a Kavanaugh um lugar na Suprema Corte", disse, acrescentando que três testemunhas refutaram a versão da professora.
Integrante mais antiga do comitê, a senadora democrata Dianne Feinstein acusou Kavanaugh de ter usado "tanta retórica política" quanto seus colegas republicanos e sido "agressivo e beligerante". Segundo ela, ele não mostrou um "temperamento imparcial" que seria esperado de um juiz.
Uma parte dos senadores democratas decidiram sair da sessão e foram falar com a imprensa do lado de fora. A senadora Kamala Harris escreveu em uma rede social que a audiência era uma "farsa" e que "a Dra. Ford e o povo americano merecem melhor."
Os discursos dos senadores republicanos se concentraram na defesa de Kavanaugh, em críticas a democratas e na continuidade de seu processo de nomeação. Já os democratas defenderam Ford e criticaram o fato de o FBI não ter investigado as suas alegações.
A votação está marcada para 14h30. Kavanaugh precisa da aprovação da maioria dos senadores do comitê (composto por 11 republicanos e 10 democratas). Depois, deve seguir para o plenário do Senado, onde precisa receber ao menos 50 votos (a casa tem 51 republicanos).
O futuro do juiz estaria na mão de quatro senadores indecisos do comitê: os republicanos Susan Collins, Lisa Murkowski e Jeff Flake, e o democrata Joe Manchin.
Mas, durante a manhã, Flake disse que votaria pela confirmação do juiz — e chegou a ser confrontado por duas mulheres no elevador enquanto seguia para a audiência. Ele se manteve em silêncio na maior parte do tempo, mas disse que acreditava em Kavanaugh.
Três mulheres já acusaram Kavanaugh de algum tipo de delito sexual, o que tem levado a um atraso no processo de nomeação para a Suprema Corte. Ele é o segundo nome indicado por Trump para o órgão --o primeiro foi Neil Gorsuch, conservador moderado.
Caso o juiz seja aprovado, o equilíbrio da corte será alterado. Ela passará a ter quatro progressistas e cinco conservadores.
Se a nomeação for rejeitada, e os democratas consigam maioria em ao menos uma das casas do Congresso nas eleições legislativas de novembro, o processo pode se estender para até depois de 1º de janeiro, quando começa a nova legislatura, o que complicaria a vida de Trump.