'Banda Navalha, um Espanto!' revive explosão musical vinda de Londrina

Banda Navalha, um Espanto!
★★★★
Apresentação única realizada na sexta (29) no Sesc Belenzinho, em São Paulo.

“Banda Navalha, um Espanto!” é, em grande parte, uma celebração de Itamar Assumpção (1949-2003), começando com um documentário de poucos minutos falando sobre ele “antes de Nego Dito”, da criação de seu personagem mais conhecido, na canção de mesmo nome.

Mostra os seus primeiros passos como ator em Arapongas e Londrina, sob a direção da mulher de teatro Nitis Jacon, as primeiras apresentações com a irmã, Denise, e com Neuza Pinheiro e, principalmente, as lembranças de Arrigo e seu irmão Paulo Barnabé.

O que se segue é um espetáculo que também explora sua forte ligação pessoal e musical, desde muito cedo, com Arrigo, Paulo e as duas, Denise e Neuza, no Paraná. É o Pessoal do Paraná, como brinca Arrigo, sempre irônico, remetendo ao Pessoal do Ceará da época —e distanciando-se do rótulo, que de fato soa inadequado, de Vanguarda Paulista.

Curiosamente, o “musical” é menos teatral do que aqueles protagonizados pelos mesmos Arrigo e Itamar no começo dos anos 1980, em São Paulo, nos quais criavam e interpretavam personagens em suas músicas e na encenação.

Itamar, sobretudo: Seus shows eram marcadamente performáticos, tanto na interpretação como nos figurinos, cenários e nas participações de Denise. Esta se dividia, então, com o início da carreira teatral paulistana, no “Macunaíma” de Antunes Filho.

Agora, é ela quem traz à cena o personagem Itamar, ao surgir em figurino masculino para interpretar algumas das músicas mais conhecidas do irmão. Chega a brincar com uma espectadora, que reconhece ao entrar pela plateia, apontando para o palco: “Itamar estava lá, você viu?!”.

Denise faz o irmão e evoca também, inevitavelmente, a sua própria forte presença naqueles shows, mais de três décadas atrás.

Como lembra Neuza ao descrever seu primeiro encontro com os irmãos Itamar e Denise, ainda na entrada dos anos 1970, eles eram como príncipes negros, imponentes, longilíneos. Mais, eram filhos de pai-de-santo que, desde cedo, tomaram parte nas celebrações no terreiro, carregando desde então —Denise, até hoje— a capacidade de ritualizar a cena com carisma e música.

Em “Navalha”, acumulam-se diferentes quadros, como numa revista que ainda precisa passar pelas mãos de um dramaturgo e de um diretor para ganhar unidade.

O que integra os quatro fluxos diversos de memórias e canções em cena, primeiro o exuberante Arrigo, depois a suave Neuza, o suingue de Denise-Itamar e por fim o roqueiro Paulo, idealizador do espetáculo, é o virtuosismo da banda.

Mario Manga no violoncelo e depois na guitarra, Paulo Lepetit no baixo e Vitor Cabral na bateria conseguem alinhavar, dar unidade, ao que poderia ser disparatado, narrativa e musicalmente. De certa maneira, são eles que festejam e incorporam a banda Navalha do título, que Arrigo, Itamar e Paulo tentaram montar em São Paulo antes de partirem para projetos próprios.

Sobre Neuza Pinheiro, “Navalha” deixa claro que foi ela quem estabeleceu o padrão de interpretação, quase uma década antes, para as cantoras que fizeram história em palcos como Lira Paulistana.

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