BC diz que precisa de mais tempo para avaliar volatilidade dos mercados
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que o BC precisa de mais tempo para avaliar os efeitos da recente volatilidade dos mercados na economia.
Em entrevista nesta quinta-feira (28), ele disse que o ruído aumentou no curto prazo. Mas salientou que, além das incertezas no front interno, com as dificuldades enfrentadas pela reforma da Previdência, o cenário externo também ficou mais turbulento, com expectativas de menor crescimento global, afetando economias emergentes como Turquia e Argentina.
"O Copom [Comitê de Política Monetária] tenta se abstrair dessa alta de frequência do mercado, onde há elementos de incerteza tanto na parte externa quanto na parte de reformas", disse.
"As incertezas estão aí, temos observado o nível de ruído, mas o que podemos dizer é que vamos sempre reavaliar o cenário e vamos atuar sempre que necessário. O importante é que se tenha um planejamento de mais longo prazo, que não se influencie tanto pelo ruído de curto prazo."
O presidente do BC disse que a reforma da Previdência é muito esperada e qualquer mudança da expectativa pela sua aprovação provoca volatilidade. Ele evitou, porém, responder se isso pode afetar ainda mais o crescimento neste ano.
O BC, assim como os agentes do mercado financeiro, reduziram suas projeções de crescimento da economia brasileira neste ano.
Ao comentar sobre a decisão recente do Copom (comitê é formado pela diretoria do BC) de manter a taxa básica de juros em 6,5% ao ano, ele disse que a melhor expressão para definir a ação do BC é o curto prazo.
"Discutimos em relação ao 'timing' e a expressão que mais se enquadrava era curto prazo. Basicamente, não temos como tomar nenhuma medida no curto prazo e precisamos de mais tempo", disse.
Embora o BC tenha acionado um leilão de venda de dólares no mercado à vista nesta quinta, o presidente do BC negou mudanças na estratégia de não buscar influenciar a cotação da moeda.
"Vamos fazer intervenções visando suprir liquidez", disse.
A escolha pela operação no mercado à vista e não no mercado futuro, por meio de swaps, ocorreu em razão da avaliação do BC de que havia disfuncionalidades no mercado.
REFORMA E JUROS
Em audiência no Senado nesta quarta (27), o ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou que, com a reforma, a taxa de juros poderia cair, resultado da redução das incertezas sobre o futuro das contas do governo.
Para Campos Neto, no entanto, é difícil quantificar o efeito das reformas na taxa de juros no curto prazo.
"As reformas são importantes para a taxa estrutural de juros de longo prazo. É difícil quantificar a reforma no curto prazo, mas ela vai proporcionar uma visibilidade fiscal maior e aumento de credibilidade, e isso pode influenciar a taxa estrutural de juros", afirmou.
Para o BC, disse ele, o mais importante a se observar são os efeitos que a reforma da Previdência terá sobre as expectativas de investidores e empresários e como isso interfere nas variáveis econômicas.