Bebianno contradiz presidente do PSL e nega responsabilidade sobre laranja
O ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral da Presidência) negou ter sido o responsável pela decisão de transferir R$ 400 mil de dinheiro público a uma candidata laranja de Pernambuco na última eleição.
A declaração conflita com a do atual presidente da legenda, o pernambucano Luciano Bivar, que havia atribuído a Bebianno a decisão sobre o repasse.
Como a Folha revelou, Maria de Lourdes Paixão, 68, concorreu a deputada federal por Pernambuco e teve apenas 274 votos, mesmo sendo a terceira maior beneficiada com verba do PSL em todo o país.
À época da eleição, Bebianno ocupava o cargo de presidente do partido, durante licença de Bivar.
A prestação de contas dela, que é secretária administrativa do PSL do estado, sustenta que 95% desses R$ 400 mil foram gastos em uma gráfica para a impressão de 9 milhões de santinhos e cerca de 1,7 milhão de adesivos.
A Folha visitou os endereços e não encontrou sinais de que ali tenha funcionado uma gráfica.
A Folha apurou que Bebianno tentou falar neste domingo por telefone com Jair Bolsonaro, para explicar o caso, mas o presidente, que se recupera de cirurgia, não quis atender o ministro.
À rádio CBN disse que nunca viu Maria de Lourdes. "Essa senhora, essa candidata, eu nunca vi na vida, não sei quem é, eu estive em Pernambuco uma vez na minha vida, ou duas. A questão do partido não tem absolutamente nada errado, no que se refere à [direção] nacional, porque esse dinheiro que foi liberado pelo Supremo poderia ser usado para fins eleitorais, para campanhas femininas, de mulher. Agora o critério, se o dinheiro vai para Maria, aí é um critério definido pela estadual, e a estadual dizia exatamente para quem deveria ir o dinheiro'."
A Folha procurou o ministro de Bolsonaro e encaminhou perguntas a ele, mas não houve resposta.
O dinheiro do fundo partidário do PSL foi enviado pela direção nacional da sigla para a conta da candidata em 3 de outubro, quatro dias antes da eleição.
Na época, Bebianno era presidente interino da legenda e coordenador da campanha de Bolsonaro, com foco em discurso de ética e combate à corrupção. Hoje ele é ministro da Secretaria-Geral da Presidência.
Fundador do PSL, Luciano Bivar é o principal cacique do partido no país. Pernambucano, elegeu-se pela terceira vez deputado federal.
Ele havia se licenciado da presidência do partido após a entrada de Bolsonaro na legenda, no primeiro semestre de 2018. Apesar disso, os candidatos de seu estado foram chancelados por seu grupo político.
O comando formal da legenda em Pernambuco é de seu advogado particular e aliado, Antonio de Rueda.
Rueda, que também é vice-presidente nacional do PSL, e Bivar, que retomou o comando formal da legenda após as eleições, disseram à Folha ter pouca informação sobre a candidatura de Lourdes, apesar dos altos valores aplicados em sua campanha, e negaram que ela seja laranja.
Ambos atribuíram a decisão sobre o repasse dos R$ 400 mil a Bebianno.
A revelação do caso provocou constrangimento no PSL e no governo.
Na semana passada, a Folha havia publicado que o atual ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, patrocinou um esquema de candidaturas de fachada em Minas que também receberam recursos volumosos do fundo eleitoral do PSL nacional e que não tiveram nem 2.000 votos, juntas.
Parte do gasto que elas declararam foram para empresas com ligação com o gabinete de Álvaro Antônio na Câmara.