Berlim registra mais de 500 casos de antissemitismo no primeiro semestre do ano
Berlim registrou 527 casos de antissemitismo nos primeiros seis meses de 2018, revelou nesta quinta-feira (25) relatório do Departamento para Pesquisa e Informação sobre Antissemitismo (Rias, na sigla alemã), com uma média de dois a três incidentes diários. Os registros incluem agressões físicas, ataques verbais, propaganda, danos à propriedade, ameaças e outros.
No total do ano passado, a organização coletou 947 casos, sendo 514 no primeiro semestre, de modo que os números agora divulgados mantêm a tendência de alta. Em 2016, haviam sido 510 incidentes.
"Recebemos a notícia do acúmulo de ataques e ameaças com verdadeiro temor. As pessoas afetadas se aproximaram de nós porque tinham experiências preocupantes e confiaram em nós nessas situações difíceis. Por meio de nossas pesquisas nos últimos quatro anos, surge um quadro diferenciado de como as experiências antissemitas podem moldar a vida cotidiana das pessoas", afirmou o diretor do projeto Berlim, Benjamin Steinitz.
Esse aumento levou o Ministério Público de Berlim a designar uma procuradora especial para lidar com o tema no âmbito da cidade-estado. A jurista Claudia Vanoni, 44, assumiu a procuradoria especial em 1º de outubro.
Segundo o Rias, o número de pessoas físicas diretamente agredidos quase dobrou entre 1º de janeiro e 30 de junho deste ano em relação ao mesmo período do ano passado: subiu de 94 para 158.
"O aumento acentuado de ameaças e, em especial, a duplicação de agressões relatadas falam por si mesmo no sentido de que o antissemitismo em Berlim está cada vez mais agressivo, enquanto certas formas de comunicação antissemita, como a propaganda em massa, diminuíram", diz o relatório.
A entidade ressalta que os incidentes partem de diferentes origens: de pessoas identificadas como de esquerda e direita; de alta e baixa escolaridade; de cristãos, muçulmanos e ateus.
"A quantidade e a qualidade dos incidentes relatados não são uma surpresa para nós. O que este inventário mostra é que há uma continuidade ininterrupta de ideologias antissemitas que levam as pessoas a mostrar seu ódio abertamente ou usar a força. Isso também significa que a percepção do antissemitismo pela população judaica não apenas reflete medos, mas é baseada em experiências reais", afirmou Marina Chernivsky, diretora do Centro de Competência para a Prevenção e o Empoderamento do Bem-Estar dos Judeus.
O Rias também registrou 264 incidentes fora da capital alemã no primeiro semestre, com base em informações de entidades parceiras. O relatório alerta, porém, que esses dados são subestimados, devido à menor expressividade dos grupos fora de Berlim.
"A documentação de cada incidente individual é valiosa, mas todos somos desafiados no compromisso diário contra o antissemitismo", afirmou Chernivsky. "Porque o confronto do antissemitismo é o teste decisivo para a democracia alemã depois do Holocausto."