Bolsonaro anuncia Abraham Weintraub para lugar de Vélez na Educação
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) anunciou nesta segunda-feira (8) um novo nome para o ministério da Educação. Abraham Weintraub entra no lugar de Ricardo Vélez Rodríguez.
Segundo Bolsonaro, Abraham é "doutor, professor universitário e possui ampla experiência em gestão e o conhecimento necessário para a pasta". "Aproveito para agradecer ao professor Vélez pelos serviços prestados", escreveu o presidente em sua conta no Twitter.
Abraham Bragança de Vasconcellos Weintraub é o atual secretário-executivo da Casa Civil e mantém proximidade com o ministro Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
Economista e professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Weintraub participou das conversas sobre a reforma da Previdência. No domingo (7), Weintraub esteve com Bolsonaro no Palácio do Alvorada. O nome de Weintraub, contudo, não estava entre os nomes cotados que circulavam nos bastidores.
A saída de Vélez era ensaiada havia algumas semanas por causa da crise permanente na pasta, expondo uma disputa entre militares e seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Na sexta (5), Bolsonaro indicou a jornalistas que resolveria a questão nesta segunda.
Anunciado no dia 22 de novembro, Vélez Rodriguez foi uma das últimas definições para a Esplanada dos Ministérios.
A publicação no Twitter do então presidente eleito tirou o professor colombiano radicado no Brasil desde a década de 1970 de um considerável anonimato. Até dias antes, o próprio Vélez Rodríguez jamais havia pensado que um dia seria ministro da Educação.
Vélez chegou à equipe de Bolsonaro por indicação do escritor Olavo, guru e ideólogo direitista, patrocinada pelos filhos do presidente.
Professor de filosofia, identificado com o conservadorismo, antipetismo e a luta contra o marxismo cultural, Vélez fez carreira discreta na própria instituição onde atuou por quase 30 anos, a Universidade Federal de Juiz de Fora.
Sem ter se dedicado aos debates sobre políticas públicas e educação, montou uma equipe a partir da indicação de vários grupos, o que depois resultou em um mosaico de interesses e disputas.
Passaram a compor a pasta profissionais ligados aos militares, ex-alunos de Vélez, técnicos do Centro Paula Souza, de São Paulo, e discípulos de Olavo. Ironicamente, atritos com ex-alunos de Olavo provocariam o desgaste mais prolongado de Vélez.
A disputa também atrasou definição de políticas importantes para as redes de ensino, como a continuidade do apoio à implementação da Base Nacional Comum Curricular —programa retomado somente no dia 4 de abril.
Nesses três meses, dúvidas com relação às avaliações federais e sobre a definição do programa de livros didáticos, por exemplo, causaram incômodo com os secretários de educação de estados e municípios.
Recentes problemas que alunos enfrentaram para a renovação do Fies (Financiamento Estudantil) ainda atingiram estudantes. A única meta para os 100 dias do MEC foi a apresentação de uma nova política de Alfabetização. Minuta do decreto indica a predominância de apenas um método de ensino, o fônico, e condiciona o recebimento de assistência técnica e financeira à adoção dessa política.
Quando veio à tona, foi criticada. O MEC promete publicar versão final, que já está na Casa Civil, nesta semana.
FASES DA CRISE
As turbulências no MEC começaram ainda no início do ano. Ao tomar posse, Vélez exaltou em discurso a família, igreja e valores tradicionais e disse que a pasta iria "combater com denodo marxismo cultural" na educação.
Em janeiro, o ministro teve que recuar sobre mudanças em um edital de compra de livros que suprimia, como a Folha revelou, o compromisso com a agenda da não violência contra mulheres e ainda permitia obras sem referências bibliográficas e com erros.
Em fevereiro, o ministro enviou carta a cerca de 24 mil escolas com o slogan da campanha de Bolsonaro, que cita Deus, e pedido de filmagem de alunos cantando o hino. O episódio causa grande desgaste e provoca novo recuo. O ministro pede desculpas, retira slogan da carta e depois desiste de pedir envio de filmagens de alunos. O novo capítulo da crise começou no dia 8 de março, com uma dança de cadeiras.
As demissões precisam ser entendidas por fases: 1) O ministro decide trocar pessoas de seu gabinete após paralisia do MEC e repercussão negativa de ações ideológicas. O processo atingiu alunos de Olavo, como o chefe de gabinete Tiago Tondinelli, e o assessor Silvio Grimaldo --que não aceita o novo posto e pede para sair.
2) Olavistas, como Grimaldo e o assessor Daniel Elmer, passaram a coordenar ataques ao ministro e a integrantes ligados aos militares e a técnicos do Centro Paula Souza.
Os dois, por exemplo, iniciaram campanha direto da casa de Olavo, nos EUA, onde estavam em curso durante expediente no MEC, como a Folha revelou. Elmer continua na pasta.3) A pressão olavista chega ao presidente, que exigiu a demissão de quem os olavistas apontavam como culpados por uma suposta perseguição ao grupo, o que inclui militares e técnicos do Paula Souza.
Primeiro saiu o coronel-aviador Ricardo Roquetti e depois o secretário executivo Luiz Antonio Tozi, oriundo do Paula Souza.Para se manter no cargo, o ministro perdeu a autonomia para montar a equipe.
Não conseguiu nomear duas pessoas anunciadas para secretaria executiva.No dia 26 de março, o presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Marcus Vinicius Rodrigues, foi demitido ao ser responsabilizado pela portaria que suspendeu a avaliação de alfabetização --ato tornado sem efeito depois. O secretário de Alfabetização, Carlos Nadalim, foi autor do pedido ao Inep, mas aluno de Olavo, foi poupado.
Sem ter ciência da portaria, a secretária de Educação Básica, Tania Leme de Almeida, pediu demissão.
Todo processo rendeu mais de 20 mudanças na pasta. As exonerações não saíram de graça e custaram R$ 171 mil só em ajuda de custo aos demitidos, além de ter comprometido o funcionamento da pasta.Avesso à imprensa, acabou se desgastando ainda mais nas três entrevistas que concedeu.
Chegou a afirmar que o brasileiro é um canibal que rouba aviões e hotéis. Na última fala, defendeu mudanças nos livros didáticos para mudar o entendimento sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar. Nem os militares gostaram.
A Folha solicita entrevista com o ministro desde dezembro de 2018, mas Vélez se recusou ao longo desses meses. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União quer que o órgão tome providências para apurar as consequências da situação no andamento das políticas públicas da área.
A procuradoria federal ainda recomendou que a pasta que se abstenha de praticar atos que violem a laicidade do Estado e a liberdade religiosa dos estudantes, em resposta à carta enviada às escolas.