Bolsonaro muda estratégia e esconde crise em 'comunicação direta' de caso Bebianno
O episódio mais dramático deste início da gestão Jair Bolsonaro não foi integralmente documentado pelo presidente em suas redes sociais. O eleitor que aposta apenas na chamada “comunicação direta” por meio de perfis oficiais pode não saber em que circunstâncias Gustavo Bebianno caiu.
Em seu perfil no Twitter, o presidente postou um vídeo editado da fala de seu porta-voz, excluindo o trecho em que ele anuncia o desfecho da crise que dragou o governo nos últimos dias.
A mensagem na página de Bolsonaro começa com medidas sobre outras áreas, como aeroportos. A menção à queda de Bebianno —que, na verdade, abriu o pronunciamento— só aparece nas perguntas de jornalistas.
Já o vídeo com elogios e reconhecimento ao papel de Bebianno na campanha não foi postado nem com edição nas redes sociais do presidente. Sites recomendados por ele como fontes de informações confiáveis também ignoraram o filme.
A peça em que ele faz um desagravo a Bebianno foi repassada aos repórteres que acompanham o cotidiano do Palácio do Planalto, e, assim, fartamente noticiada na imprensa que ele costuma chamar de produtora de fake news.
As redes bolsonaristas —dele e de seus filhos— simplesmente ignoraram a existência do vídeo.
Quem acompanhou a escalada de ataques a Bebianno nos grupos de apoiadores de Bolsonaro nos últimos dias poderá concluir com facilidade que a peça com elogios ao ex-ministro foi ignorada porque não combina com a narrativa que proliferou nesses espaços nos últimos dias.
Filhos e pessoas próximas ao presidente estimularam a disseminação de textos que apontavam Bebianno como um traidor, um agente infiltrado, um quinta coluna que tramava a queda do governo em associação com a “grande mídia”.
Para um presidente que surfa na imagem da “autenticidade custe o que custar”, o desagravo a um traidor não faz sentido. A advertência de que “pré-julgamentos de qualquer natureza” não são adequados também soaria deslocada da estratégia adotada pelo clã nos últimos dias.
Que dirá o reconhecimento de que o “trabalho [de Bebianno] foi importante para o nosso êxito” na corrida eleitoral ou a revelação de que o presidente decidiu demiti-lo mesmo dizendo que continua “acreditando na sua seriedade e na qualidade do seu trabalho”.
Bolsonaro se elegeu apostando na segmentação das informações que alimentam seus apoiadores cativos.
A rumorosa e desgastante demissão de Bebianno não revelou apenas ao Congresso ou a eventuais aliados como os Bolsonaro podem tratar um desafeto. Ela também mostrou até onde vai a capacidade e a disposição do presidente e de seu grupo de cindir a realidade que apresentam aos eleitores.