Bolsonaro usa tática Trump de confundir para governar, mas Brasil não é os EUA

A cacofonia da primeira semana e meia do regime de transição de poder no país era esperada, e Jair Bolsonaro se mostrou um aplicado discípulo das táticas consagradas por Donald Trump: confundir para governar.

Se colaboradores próximos sempre consideraram a pasta da Defesa limitada para o escopo de funções que o general Augusto Heleno acumulou ao longo dos quase dois anos dedicados a construir a candidatura de Bolsonaro, causou nada menos que estranhamento ele ser citado pelo chefe para ir ao GSI, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência.

Não pela função em si. O GSI foi recriado e ganhou bastante poder no governo Temer, e é o lugar ideal para um faz-tudo e conselheiro do presidente. Muito mais o perfil de Heleno do que o estafante ritmo da burocracia da Defesa.

Mas então por que Bolsonaro fez isso de forma quase descuidada, usando sua habitual linguagem escorregadia, logo com um dos primeiros nomes de ministro a ser indicado para uma área específica?

Há método, certamente, e também um grande interesse em ver a total colaboração das Forças Armadas a seu antigo e recalcitrante membro. Os comandos já deixaram claro que buscam independência do que vier a acontecer no governo, e um bom jeito de azeitar a conversa é manter espaços. Se o general Silva e Luna, ministro da Defesa, acabar ficando na cadeira, o recado será eloquente.

Mas são ruídos desnecessários, como as primeiras reações à promessa de fazer migrar de Tel Aviv para Jerusalém a embaixada brasileira em Israel comprovaram. Mais do que alertado sobre os riscos de retaliação política e econômica, Bolsonaro reafirmou a um jornal israelense o que havia dito em eventos com evangélicos favoráveis a qualquer coisa que promova o Estado judeu.

Veio a reprimenda do Egito, que nem grande cliente brasileiro é, vista como um tiro de advertência de adversários que talvez nem estejam tão interessados na briga. Seja como for, deu certo: Bolsonaro já disse que talvez não seja bem assim.

As já clássicas confusões com assessores começam a ganhar contornos de problemas de governo, como no caso da renegociação dos juros da dívida: quem está certo, afinal, Bolsonaro ou Paulo Guedes?

A lista é longa, fusões e desuniões de ministérios para começar. Trump sempre pôde abusar de seu método errático de governança porque cavalga seu touro mecânico sobre uma estrutura sólida, o Partido Republicano, por sua vez parte de um carrossel em marcha eficaz há quase 250 anos.

Aqui, no quebradiço mangue ressecado do que sobrou da institucionalidade brasileira, o potencial de a tática criar crises em espirais não é exatamente desprezível.

 

Nesta terça (6), Bolsonaro voltou a empunhar solenemente a Constituição, em evento dos 30 anos da Carta, que envelhece mal. Dada a disposição do eleito de ouvir o que não gosta (não aplaudiu discurso da colega de mesa Raquel Dodge) ou de falar sobre o que não quer (mandou "passar a pergunta" aos ser questionado sobre o caso Israel), é um reforço de imagem cada dia mais inócuo.

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