Bolsonaro vai resistir aos lobbies?
Se as pesquisas de intenções de voto se confirmarem, Jair Bolsonaro (PSL) será eleito presidente do Brasil no próximo domingo (28). Ele chegará a cargo máximo do país com uma agenda antiga, conservadora e até perigosa na educação, na segurança, no meio ambiente, etc, mas, de certa forma, revolucionária na economia.
Digo revolucionária, porque é algo nunca testado com vigor por essas bandas. Recém-convertido ao liberalismo, Bolsonaro promete —sem dar detalhes de como fará isso— abrir a economia, reduzir impostos, privatizar estatais, ajustar as contas públicas.
Supondo que ele esteja disposto a cumprir os ensinamentos de seu guru, o economista Paulo Guedes, a tarefa não será fácil. Bastou a imprensa sinalizar quais seriam as medidas do futuro presidente para que os lobbies se movimentassem.
Na segunda-feira (22), o candidato se reuniu com um grupo de empresários no Rio de Janeiro. Estiveram presentes representantes de alguns dos setores mais protecionistas do país: indústria química, máquinas e equipamentos, automotivo, aço, têxteis, entre outros.
Na reunião marcada pelo deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), que Bolsonaro já anunciou como seu futuro ministro da Casa Civil, os industriais reclamaram do custo Brasil, da falta de competitividade da indústria brasileira, e dos riscos de uma abertura da economia.
Conforme o relato de pessoas que participaram do encontro, Bolsonaro ouviu respeitosamente e até com humildade, mas não disse quase nada além de agradecer. Falou apenas que uma nova reunião deve ser marcada após a eleição. Os empresários saíram de lá sem ter a menor ideia sobre o pensa o candidato.
Contudo, dois dias depois, receberam um aceno: Bolsonaro anunciou em transmissão ao vivo pelo Facebook que havia desistido de unificar os ministérios da Fazenda e da Indústria. Atendia assim uma demanda dos empresários, que temiam perder seu “advogado” dentro do governo, papel tradicionalmente exercido pelo ministro da Indústria.
Não vejo demérito algum em um presidente voltar atrás e rever uma posição. É muito pior aqueles que são tão convictos que não conseguem reconhecer um erro e mudar o rumo —Dilma Rousseff é o maior exemplo disso. O lobby empresarial, no entanto, é apenas um dos que Bolsonaro terá que enfrentar para implementar sua agenda liberal.
Ainda virão as pressões dos servidores públicos e dos militares —que parecem incapazes de compreender a necessidade de uma profunda reforma da Previdência— dos congressistas e dos juízes —que acham justo receber uma imensa quantidade de penduricalhos pagos com dinheiro público— etc.
Até agora, Bolsonaro militou ao lado desse pessoal, defendendo seus interesses e privilégios, conforme demonstra seu histórico de votações no Congresso. Uma vez eleito, ele terá força suficiente para enfrentá-los, nem que seja para implementar reformas tímidas, mas que comecem a tirar o país do buraco?