Bolsonaro é resiliente em classe que avançou com lulismo

Análise de segmentação multivariada aplicada pelo Datafolha com base na renda familiar mensal, acesso a itens de conforto (critério Brasil de classificação econômica) e grau de escolaridade do entrevistado revela que Jair Bolsonaro (PSL) tem quatro pontos de vantagem sobre Haddad na classe média intermediária, a que mais cresceu nas gestões petistas —era 17% da população em 2001 e hoje corresponde a 36%. Fernando Haddad (PT) converte em intenção de voto parte do potencial de sua candidatura como substituto do ex-presidente Lula e passa a dividir com Bolsonaro o protagonismo do cenário eleitoral.

O petista vai ocupando o espaço que lhe era reservado no imaginário do eleitorado vendendo-se como representante das políticas de inclusão que marcaram a gestão de seu principal cabo eleitoral.

Em aproximadamente duas semanas, a taxa dos que dizem conhecer o candidato cresceu 16 pontos percentuais e o apoio ao seu nome subiu, de maneira contínua, 13 pontos.

Nos últimos dez dias, seu desempenho intensificou-se em nichos tradicionais do lulismo, como os menos escolarizados, os de menor renda e moradores do Nordeste. 

Apresenta crescimento significativo também entre os mais jovens, que têm até 24 anos. No geral, desidratou a outra candidatura de esquerda, a de Ciro Gomes (PDT), que também se mostrava competitiva nesses estratos.

É um grande feito, mas a proeza ainda não explora, em sua totalidade, a força da figura de Lula nesses segmentos.

O ex-prefeito de São Paulo fica abaixo do potencial gerado por seu padrinho não só entre os simpatizantes do PT (17 pontos de diferença entre os que querem votar no ungido pelo ex-presidente e o percentual dos que efetivamente o fazem).

Ainda fica bem distante —cerca de 20 pontos percentuais— do índice de pretensos eleitores entre os menos escolarizados e de menor renda. Entre as mulheres, fica a 13 pontos da meta e, entre os homens, a sete. Entre os nordestinos ainda teria 15 pontos a conquistar.

O desafio passa não só por comunicação dirigida e adequada a esses estratos, onde o desconhecimento sobre o candidato ainda é importante, mas também por entender a resiliência de Bolsonaro em subconjuntos correlatos.

O candidato do PSL aparece, por exemplo, numericamente à frente em subconjuntos da classe média que ascenderam no lulismo. 

Somando-se todos os níveis da classe média (69% do eleitorado), o capitão reformado abre 11 pontos de vantagem sobre o petista e 21 sobre Ciro Gomes. 

Em 2014, em período equivalente, Dilma dividia o estrato com Marina Silva (ambas com percentuais próximos a 40%, contra 20% de Aécio Neves, do PSDB).

Nas classes mais ricas e escolarizadas, com posse de bens acima da média da população, o candidato do PSL lidera disparado, com 40% ou mais das intenções de voto, e abre até 31 pontos de diferença para os segundos colocados.

No extremo oposto, os excluídos (segmento com baixíssimas escolaridade, renda e classificação econômica) de onde saiu boa parte da “nova classe média”, Haddad lidera com o dobro das intenções de voto (29%) tanto de Bolsonaro quanto de Geraldo Alckmin (14%, cada um).

Há 16 anos, esse segmento era o que mais pesava no eleitorado, com 33% de participação entre os brasileiros. Hoje, responde por 24%.

A classe média intermediária, por seu peso quantitativo e pela bem definida clivagem econômica do voto, foi o fiel da balança pró-Dilma Rousseff (PT) no segundo turno de 2014. Foi também determinante na vitória do “antipolítico” João Doria (PSDB) em primeiro turno para prefeito de São Paulo em 2016.

Agora, resta saber como ela se comportará no país como um todo, caso o segundo turno fique de fato entre o antipetismo personificado em Bolsonaro e o lulismo de Haddad.

Por enquanto, apesar de cedo para gerar conclusões, na simulação que projeta os dois nomes para a fase seguinte da disputa, o estrato vem assegurando uma pequena liderança ao petista. Mas a opção definitiva dependerá dos códigos que a maioria dessa classe utilizará na decisão do seu voto —se os valores do segmento mais pobre, de onde grande parte deles saiu, ou os modelos “aspiracionais” de classes mais altas.

Paulino é diretor-geral do Datafolha; Janoni, diretor de pesquisas do instituto.

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