Brasil fora da Copa; quem sai por cima e quem sai por baixo

Ao menos para mim, foi frustrante a eliminação da seleção brasileiras nas quartas de final da Copa do Mundo.

Pelo que a equipe vinha jogando antes da competição na Rússia, era natural haver uma sensação de empolgação, tanto que palpitei que a equipe de Tite conquistaria o hexacampeonato.

No decorrer da Copa, contudo, o Brasil teve certa dificuldade para repetir o futebol animador apresentado nas eliminatórias, depois que o ex-treinador do Corinthians assumiu (no meio de 2016), e nos amistosos pré-Mundial.

Na fase de grupos, empacou na Suíça (1 a 1), quando deveria ter vencido, pois houve erro de arbitragem no gol da seleção europeia. Passou a duras penas pela Costa Rica, 2 a 0, com dois gols no final do segundo tempo. Diante da Sérvia, outro 2 a 0, foi convincente.

E repetiu esse desempenho (o contra os sérvios) nas oitavas de final, repetindo também o placar.

Parecia tudo muito bom, tudo muito bem, até que a Bélgica, uma seleção de alguns ótimos talentos individuais (Lukaku, Hazard, De Bruyne, Mertens), mas que não me empolgava coletivamente, foi o algoz do Brasil.

Nas horas seguintes à partida desta sexta (6), repórteres relataram os acontecimentos, as explicações, os lamentos, e colunistas e comentaristas opinaram, analisaram, fizeram avaliações, tudo de forma bastante ampla.

Então você, leitor, certamente quer algo mais específico. Algo como: do elenco do Brasil nesta Copa, quem foi bem e quem foi mal, quem tem futuro na equipe e quem deve ser repensado?

A seguir, minhas observações a respeito de cada um dos 23 que serviram à seleção em solo russo.

Goleiros

Alisson (Roma, 25 anos) – Seu cartaz antes do início da Copa era enorme, tanto que divulgou-se seguidamente que o Real Madrid iria contratá-lo. A seleção levou três gols, e em nenhum deles considerei que a culpa foi de Alisson. Contra a Suíça, se alguém falhou, foi Miranda. Contra a Bélgica, ele foi pego de surpresa no gol contra de Fernandinho, e o chute de De Bruyne não era defensável. Deve continuar na seleção? Sim.

O goleiro Alisson, desolado depois do jogo com a Bélgica (Roman Kruchinin – 6.jul.2018/AFP)

Ederson (Manchester City, 24 anos) – Ficou na reserva nos cinco jogos. Está em um dos melhores times do mundo e é treinado por um dos melhores (senão o melhor) técnicos do mundo, Pep Guardiola, então a tendência é que evolua e dispute a posição de titular com Alisson. Deve continuar na seleção? Sim.

Cássio (Corinthians, 31 anos) – Ficou na reserva nos cinco jogos. Experiente e vencedor, é para mim o melhor goleiro em atividade no Brasil. A não ser que haja uma opção pela convocação de goleiros mais jovens, não há razão para que não seja chamado. Deve continuar na seleção? Sim.

Laterais

Fagner (Corinthians, 29 anos) – Substituiu Danilo, então contundido, contra a Costa Rica e ganhou a posição de titular. Não comprometeu diante de costa-riquenhos e sérvios, mas diante de mexicanos (principalmente) e belgas, sofreu na marcação e não rendeu no apoio. É fraco no jogo aéreo. Deve continuar na seleção? Não.

Danilo (Manchester City, 26 anos) – Uma Copa para Danilo esquecer. Discreto contra a Suíça, lesionou-se em treino e foi substituído por Fagner. Recuperado, virou reserva. Antes do jogo com a Bélgica, sofreu nova contusão em treino, que o tirou do Mundial. Pela idade (ainda é jovem) e pela falta de opções na lateral direita, deve ter nova chance. Deve continuar na seleção? Sim.

Marcelo (Real Madrid, 30 anos) – Eu esperava muito mais de Marcelo na Rússia. Mais significa mais jogadas de linha de fundo, mais bons cruzamentos, mais dribles produtivos, mais assistências, até gols. Nada disso se viu. Sentiu dor nas costas no começo da partida contra a Sérvia e ficou fora contra o México. Voltou, o Brasil foi eliminado. Mas continua a ser o melhor lateral esquerdo do mundo. Deve continuar na seleção? Sim.

Filipe Luís (Atlético de Madri, 32 anos) – Não dá para reclamar de Filipe Luís, um lateral sério e cumpridor de suas funções, especialmente as defensivas. Quando teve de substituir Marcelo (diante de Sérvia e México), jogou bem. Pesa contra ele a idade, é necessário observar seu rendimento físico no clube para verificar se manterá o fôlego. Deve continuar na seleção? Sim.

Zagueiros

Miranda (Inter de Milão, 33 anos) – No gol suíço, na estreia do Brasil na Copa, Miranda foi empurrado por Zuber, que marcou de cabeça após escanteio. Falta? Sem dúvida. O problema é que zagueiro que se preze não permite que o adversário tenha vantagem no confronto físico, posicionando-se de forma a não permitir o empurrão. O tempo do sangue de barata Miranda na equipe, até pela idade, já passou. Deve continuar na seleção? Não.

Thiago Silva (Paris Saint-Germain, 33 anos) – Grande a Copa de Thiago Silva. Eu achava que ele poderia não ter controle emocional, mas teve. Não cometeu erros na marcação e segurou o choro até quando fez gol – de cabeça, diante da Sérvia. Mas terá motivação e fôlego para encarar mais um ciclo de Copa do Mundo, sendo que já está perto dos 34 anos? Penso que é hora de abrir espaço para alguém mais jovem. Deve continuar na seleção? Não.

Marquinhos (Paris Saint-Germain, 24 anos) – Entrou em apenas um jogo, e nos acréscimos do segundo tempo, contra o México, depois de ter sido titular em quase todas as partidas das eliminatórias sul-americanas. Eu o vejo com condições de recuperar o espaço e ser titular do time nos próximos anos. Deve continuar na seleção? Sim.

Geromel (Grêmio, 32 anos) – Ficou na reserva nos cinco jogos. Pilar na defesa gremista, já está longe de ser um garoto. Não o vejo em condições de chegar em ótima forma ao Qatar-2022, então é preferível convocar alguém mais novo desde já. Deve continuar na seleção? Não.

Meio-campistas

Casemiro (Real Madrid, 26 anos) – É um dos melhores volantes do planeta, com bom passe e um excepcional poder de marcação. Sua presença é imprescindível para a seleção brasileira. Suspenso, ficou fora da partida em que o Brasil foi eliminado. Deve continuar na seleção? Sim.

Fernandinho (Manchester City, 33 anos) – Antes do jogo com a Bélgica, escrevi os prós e contras da entrada de Fernandinho. Infelizmente, um dos contras (a superstição) esteve em campo com ele. Foi de Fernandinho, que começou como titular no fatídico 7 a 1 na Copa de 2014, o primeiro gol belga, em tremenda infelicidade após escanteio. Reforçou a fama de pé-frio, que não lhe é nada favorável. Deu para ele. Deve continuar na seleção? Não.

Renato Augusto comemora o gol marcado na Bélgica (Luis Acosta – 6.jul.2018/AFP)

Renato Augusto (Beijing Guoan, 30 anos) – Devido à mudança na formação tática de Tite para a Copa, Renato Augusto, titular nas eliminatórias sul-americanas, esquentou o banco na Rússia. Jogou ao todo 50 minutos, entrando em três partidas, incluindo a diante da Bélgica, marcando o gol do Brasil. Teve nos pés ótima oportunidade de empatar, mas chutou para fora. O meia sempre teve problemas em relação à forma física, e como já passou dos 30 isso só tende a se agravar. Deve continuar na seleção? Não.

Paulinho (Barcelona, 29 anos) – Marcou um lindo gol (num lance que lembrou passo de balé) contra a Sérvia, e no restante não conseguiu ser o esperado elemento-surpresa, o quinto homem do quarteto ofensivo formado por Willian, Philippe Coutinho, Gabriel Jesus e Neymar. Como em 2014, Paulinho ficou devendo. Como Fernandinho, deu para ele. Deve continuar na seleção? Não.

Fred (Manchester United, 25 anos) – Ficou na reserva nos cinco jogos. Pouco antes do começo da Copa, o Manchester United anunciou a contratação do volante que defendia o Shakhtar (Ucrânia). O valor? Cerca de € 55 milhões (R$ 250 milhões pelo câmbio atual). Todo esse cartaz não foi suficiente para que ele jogasse um único minuto no Mundial, muito menos para ser considerado opção para substituir Casemiro diante da Bélgica. Nem merecia ter ido à Rússia. Deve continuar na seleção? Não.

Atacantes

Neymar (Paris Saint-Germain, 26 anos) – Esperava-se na Copa muito, mas muito mais de Neymar, que deixa a Rússia mais afamado pelo momentos teatrais pós-faltas do que pelo grande futebol que tem – não demonstrado neste Mundial. Fez dois gols, sim (contra Costa Rica e México), só que quase sumiu diante dos belgas. Dito isso, ainda é, de longe, o melhor jogador do Brasil, nosso único supercraque, sendo assim indispensável. Deve continuar na seleção? Sim.

Philippe Coutinho (Barcelona, 26 anos) – Coutinho começou a competição de forma esplendorosa, com um gol na Suíça e outro na Costa Rica. Lamentavelmente, perdeu rendimento nos três jogos seguintes, mesmo tendo dado duas assistências (para os gols de Paulinho e Renato Augusto). É um jogador talentosíssimo e de ótima finalização que precisa ser mais constante. Deve continuar na seleção? Sim.

Willian (Chelsea, 29 anos) – Mesmo com bons momentos em algumas partidas, Willian, o ponta direita do Brasil no Mundial, ficou devendo. Muita disposição e rapidez, porém pouca efetividade. Zero gol, zero assistência. Gosto do futebol de Willian, mas concluo que não é jogador de Copa do Mundo – na do Brasil, em 2014, foi reserva e pouco jogou. Deve continuar na seleção? Não.

Gabriel Jesus (Manchester City, 21 anos) – Grande esperança de gols, o mais jovem atleta do Brasil na Copa fracassou. Titular em todas as partidas, não sentiu o gostinho de balançar as redes. Quando precisamos dele, Jesus não salvou. O que não significa que não possa salvar mais à frente. Gabriel evoluirá muito sob as ordens de Guardiola no Man City. Merece novas oportunidades. Deve continuar na seleção? Sim.

Roberto Firmino (Liverpool, 26 anos) – Por causa das fracas atuações de Gabriel Jesus, agora é fácil falar que Firmino deveria ter sido o escalado. Não farei isso, porém quando ele entrou a seleção melhorou consideravelmente – fez inclusive o segundo gol diante do México. Merecia ter jogado mais minutos (foram só 81 ao todo). Está em um nível para disputar de igual para igual a vaga de centroavante titular com Jesus. Deve continuar na seleção? Sim.

Douglas Costa entrou no segundo tempo na partida diante da Bélgica (Benjamin Cremel – 6.jul.2018/AFP)

Douglas Costa (Juventus, 27 anos) – Uma pena para a seleção que Douglas Costa teve problemas físicos na Copa, que o mantiveram em recuperação durante parte do torneio. Nos dois jogos em que entrou (Costa Rica e Bélgica), atuando pela ponta direita, esteve endiabrado. Ativo, veloz, driblador, com ele o Brasil cresceu e intimidou os oponentes. Sai de cabeça erguida. Deve continuar na seleção? Sim.

Taison (Shakhtar, 30 anos) – Ficou na reserva nos cinco jogos. Sem comentários. Até agora não entendo por que Tite o convocou. Havia ao menos uma dúzia melhores. Deve continuar na seleção? Não.

Dos 23 de Tite na Copa, avaliei que dez não devem mais ser chamados para a equipe.

Pode parecer uma posição radical, porém é preciso em formar um time forte mentalmente, fisicamente e tecnicamente para 2022, e os mencionados não se enquadrariam mais pelo menos uma dessas exigências.

Quem se enquadra? Esse é um assunto para um próximo texto.

Em tempo: Tite? Resgatou o futebol brasileiro arruinado por seu antecessor, Dunga. Tem que continuar até 2022. 

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