Brasileiros em Israel adotam cidade com risco de guerra

Tel Aviv? Jerusalém? Nem de longe. Uma onda de imigrantes brasileiros têm desconsiderado os grandes centros urbanos de Israel, preferindo de estabelecer em cidades desconhecidas que não constam da maioria dos roteiros turísticos. Um exemplo é Nahariya, com apenas 50 mil habitantes, no extremo norte do país, a 10 km da fronteira com o Libano.

Seguindo tendência que começou em 2014, a imigração brasileira para Israel continua crescendo. De janeiro a agosto de 2018 desembarcaram no país 416 brasileiros. A expectativa é superar 2017 (700 imigrantes).

Ao invés de escolher cidades mais conhecidas ou com comunidades brasileiras estabelecidas (como Raanana e Modiin), brasileiros têm optado por Nahariya, a 110 km de Tel Aviv e 175 km de Jerusalém. Moram na cidade cerca de 200 brasileiros, mas há dezenas na fila de espera.

"Todos pensam que Israel é só Tel Aviv, mas não é. É possível viver bem fora do centrão", diz Gladis Berezowsky, fundadora da ONG Olim do Brasil, que ajuda brasileiros na adaptação ao país. "A cidade está em busca de novos moradores e quer receber brasileiros".

Os principais motivos da escolha são o custo de vida mais baixo e a tranquilidade de uma cidade com clima de balneário no mar Mediterrâneo.

Mas Nahariya só aparece no noticiário internacional em momentos de conflito entre israelenses e libaneses. 

Durante a Segunda Guerra do Líbano, entre julho e agosto de 2006, a cidade foi bombardeada por centenas de foguetes do tipo Katyusha lançados pela guerrilha libanesa Hizbullah. Cinco pessoas foram atingidas.

Por causa do perigo de confronto, o hospital local tem até mesmo uma emergência dentro de um bunker. E a população é, de tempos em tempos, orientada sobre como agir em caso de ataques aéreos.

Mas isso não amedrontou a cabeleireira maranhense Genilda José, 42, que se mudou para Israel há dois anos com o marido e dois filhos: "Todo mundo fala de coisa de guerra. Sei que aqui estamos rodeados de inimigos por todos os lados, mas estamos protegidos por Deus", diz Genilda, que abriu recentemente um salão de beleza, a primeira empresa brasileira em Nahariya.

A decisão de deixar o Brasil foi tomada depois que a escola dos filhos passou um ano em greve. Genilda e o marido, Marcos Paulo, resolveram imigrar para dar a eles uma educação melhor. Como Marcos Paulo é judeu, Israel acabou sendo a melhor opção por oferecer cidadania imediata, além de uma ajuda de custo nos primeiros meses.

A família chegou na cidade de Beer Sheva, no sul. Insatisfeita, Genilda viu vídeos sobre Nahariya e se apaixonou: "É uma cidade pequena, com praia e muita cultura. Além disso, recebo apoio de outros brasileiros".

Atualmente, os brasileiros são 10% dos imigrantes recebidos pelo Centro de Absorção de Nahariya, onde podem ficar por alguns meses enquanto estudam hebraico. Entre eles estão o casal de educadores físicos paulistas Karen Gedanken, 40, e Luciano Aquino, 43, que desembarcaram há três meses com as duas filhas —Sofia, 9, e Aline, 13.

"Nem sabíamos o que era Nahariya... Era uma comida? Um peixe?", ri Luciano. "Mas acabamos nos apaixonando. É um paraíso. Guerra vive o brasileiro! É tiro, é ladrão, é sequestro... Até agora, não tivemos nenhuma experiência de violência. Pelo contrário. Minhas filhas podem andar com segurança nas ruas sem medo de assalto."

Luciano e Karen se sentem tão em casa que já realizaram duas campanhas de limpeza das praias locais, nos poucos meses que estão na cidade. Foram até entrevistados pela mídia local. Na segunda campanha, 30 pessoas apareceram para catar lixo da areia.

Mas os brasileiros mais veteranos de Nahariya já viveram o medo da guerra. Durante o conflito de 2006 com o Líbano, dois terços dos moradores de Nahariya tiveram que deixar a cidade, e o resto passou o mês todo dentro de abrigos antiaéreos. 

Apesar de achar a cidade apaixonante e pleitear a vinda de mais brasileiros para lá, a gaúcha Julia Gutgold, 58, moradora de Nahariya há 15 anos, disse ter ficado apavorada.

"Assim que caiu o primeiro foguete, fui embora. Liguei para a Sochnut (Agência Judaica, que cuida das imigrações) aos prantos e pedi que me ajudassem com moradia no centro do país", conta Julia. 

"Mas não pensei um minuto sequer em voltar ao Brasil. A guerra urbana lá é muito pior e acontece o tempo todo. Aqui, pelo menos, você sabe quem é o inimigo e se seguir o que dizem as autoridades, fica tudo bem."

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