Caixa usará recursos de acordo com CNP Assurances para reforçar crédito
A Caixa Econômica Federal usará recursos de um acordo feito com a seguradora francesa CNP Assurances para fortalecer sua estrutura de capital e aumentar sua capacidade de oferta de crédito, disse o presidente do banco estatal, Nelson Antonio de Souza.
“Poderemos ampliar o crédito, ainda que de forma prudente, nas linhas que exijam menos alocação de capital”, disse Souza à agência de notícias Reuters, nesta sexta-feira (31).
A CNP Assurances pagará R$ 4,65 bilhões para poder vender produtos das áreas de vida, prestamista e previdência até 2041 nas agências da Caixa Econômica Federal, anunciou na quarta-feira sua unidade Caixa Seguridade.
O banco deve captar mais recursos ainda em 2018 com outras parceiras que envolvem o uso de suas agências para venda de seguro habitacional, automotivo, de riscos patrimoniais e consórcios, disse Souza.
Além dos recursos mais imediatos, a renovação do acordo em novas bases com a CNP Assurances abre caminho para a Caixa Econômica retomar os planos de abrir o capital da Caixa Seguridade, que haviam sido interrompidos desde 2016 devido ao impasse nas negociações com os franceses sobre extensão da parceria que vence em 2021.
Como parte das conversas, a Caixa Seguridade estendeu um acordo de exclusividade com a corretora Wiz até 2021. A Caixa Seguridade criou uma corretora própria para operar com a Wiz a partir de então, disse Souza.
O movimento é o primeiro de uma série de iniciativas lançadas pela Caixa Econômica nos últimos anos para levantar recursos com vários de seus ativos e fortalecer os níveis de capital, que ficaram bastante debilitados na esteira da fracassada campanha do governo federal de usar os bancos públicos para tentar reanimar uma economia na trilha da recessão.
Após o acordo com a CNP Assurances, o banco estatal vai retomar o processo de venda de seu braço de loterias instantâneas Lotex, que fracassou em julho por falta de interessados. Pelo negócio, o governo esperava um lance mínimo de 1 bilhão de reais.
“Estamos reformulando o modelo de negócios da Lotex para dar maior atratividade a investidores e vamos voltar ainda em 2018”, disse Souza. “Interessados tem.”
Em outra frente, a Caixa Econômica se prepara para voltar a repassar parte de suas carteiras de crédito, instrumento muito usado pelos demais bancos, mas que o estatal foi proibido de fazer pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2016.
“Já obtivemos aval da área técnica do TCU para a venda de ‘carteiras performadas’”, disse Souza, em referência a créditos adimplentes. “Vamos voltar ao mercado nos próximos meses”, acrescentou.
O banco também vai retomar a venda de um lote de imóveis recebidos por inadimplência, que também fracassou este mês devido à percepção de risco dos potenciais investidores. A expectativa com esse negócio é também de levantar R$ 1 bilhão.
As iniciativas devem dar ao banco maior capacidade de cumprir níveis mais rígidos de alocação de capital previstas em Basileia III e que entram em vigor no começo de 2019, ao mesmo tempo em que tenta voltar a ampliar crédito, após dois anos de estagnação.
CONSIGNADO/FGTS
Uma das linhas que o banco pretende ampliar sua participação é no crédito consignado, por se encaixar no foco da Caixa Econômica de priorizar linhas de menor risco e que, por isso, exigem menor alocação de capital.
“Temos espaço para crescer muito no consignado”, disse o presidente da Caixa.
O banco aposta que mudanças operacionais façam deslanchar o consignado para trabalhadores do setor privado, com garantia do FGTS. Embora exista desde 2016, a modalidade não teve adesão dos bancos, que dizem ver muitos riscos no modelo.
Com os ajustes feitos pela Caixa, os bancos terão mais visibilidade sobre o saldo de FGTS dos tomadores, o que permitirá a oferta de crédito a preços mais parecidos com os praticados para funcionários públicos.
“Nossa expectativa é de que isso aconteça já em setembro”, disse Souza. “Já conversamos com alguns bancos”.
CRÉDITO DIGITAL
Dentre as iniciativas para tentar reduzir a desvantagem em relação aos principais rivais em alguns segmentos, a Caixa está criando um braço para reunir seus negócios de cartões, disse Souza.
“Vamos ter uma empresa própria que vai nos ajudar a ter no setor uma presença equivalente ao nosso tamanho no mercado.”
Em outra frente, o banco lançou neste mês o projeto piloto de agências digitais para atender a crescente demanda por serviços fora das agências físicas. Até o final do ano, a Caixa deve inaugurar 100 unidades dessas agências, enquanto conclui um sistema que permita ao banco abrir contas correntes totalmente digitais ainda em 2018, disse o executivo.