Calado, Neymar chuta e despreza a galinha dos ovos de ouro

Após a derrota do Brasil para a Bélgica, Neymar não quis falar com os jornalistas. Nenhuma novidade. Muitos outros jogadores, de Messi a Fernandinho, também se recusaram a ser entrevistados.

A estrela brasileira que sonhava em se consagrar na Copa e se tornar o melhor do mundo nesta temporada só se dignou a responder a algumas poucas perguntas ao final das partidas contra Suíça e México, nesta última para cumprir uma exigência da Fifa por ter sido escolhido como o melhor em campo.

Nos três jogos restantes, fugiu com nariz erguido e passos rápidos dos gravadores, câmeras e canetas que estavam diante dele. Sexta-feira, escreveu no Instagram (ou escreveram por ele) meia dúzia de platitudes e fez os agradecimentos de praxe para Deus. Deu-se por satisfeito. As redes sociais são uma escapatória confortável: ninguém é obrigado a contestar nada depois de postar o que quer que seja.

Mas vamos logo corrigir o que foi dito até aqui. Não é para sites, jornais, revistas, redes de TV e de rádio que Neymar e os demais se negam a dizer o que deveriam falar. É para o responsável, em última instância, por toda a fortuna que ganham: o torcedor.

De onde vêm os salários milionários que remuneram seus talentos? Dos ingressos dos jogos, dos direitos de transmissão pagos pelas emissoras de TV, dos patrocínios dos seus clubes e de suas seleções, da publicidade que fazem de uma infinidade de produtos e do aluguel de sua imagem para diversos fins, não necessariamente nessa ordem.​

A dinheirama só jorra em torno de tudo isso, chegando aos seus bolsos e alimentando o fabuloso negócio do futebol, porque ele, o torcedor, compra a entrada, proporciona audiência para a televisão —que, assim, consegue atrair anunciantes— e toma as bebidas ou veste os artigos esportivos aos quais dá seu aval.

Portanto, gostem ou não, os craques tão incensados pelos meios de comunicação devem dar, sobretudo nas derrotas ou na eliminação na Copa, satisfações ao torcedor. Explicar os gols perdidos, justificar as simulações, admitir os erros —ou, é claro, externar o orgulho por suas atuações.

O único canal para isso de mão dupla —perguntas e respostas— é a mídia, que tem neste caso o papel de ser a intermediária entre ídolo e fã.

Quando insistem em driblá-la, Neymar e sua corporação de seguidores estão chutando com desprezo a galinha de onde saem seus ovos de ouro.

Não custa lembrar. Jogava no Santos um camisa 10 que conquistou três Copas do Mundo, marcou 1.281 gols, foi eleito o atleta do século 20 e entrará para a eternidade como o maior jogador da história do futebol. Ele dava entrevista para qualquer profissional persistente que o procurasse. Sabia que não era um favor, mas uma obrigação.

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