Capital do basquete, Franca volta a justificar apelido após anos difíceis
Um dos principais redutos do basquete brasileiro há 60 anos, a cidade de Franca (localizada a 400 km de São Paulo) viu sua relação com esse esporte renascer nas últimas temporadas.
Após correr o risco de ficar sem sua tradicional equipe em 2014, a cidade apelidada de “capital do basquete” precisou passar por um processo de reestruturação, com direito a decepções dentro de quadra, antes de voltar a conquistar títulos nos últimos meses.
Anfitrião do Jogo das Estrelas do NBB (Novo Basquete Brasil) neste fim de semana, o Franca é o atual campeão paulista e da Liga Sul-Americana. Também está na vice-liderança da liga nacional e foi vice-campeão da Copa Super 8, torneio com os oito melhores do primeiro turno do NBB.
Faz quase cinco anos que a equipe perdeu o patrocínio da empresa de telefonia Vivo. Endividado e com dificuldades para encontrar novas fontes de financiamento, o time ficou próximo de fechar as portas.
Alexey, 23, armador do time e natural de Franca, estava na categoria juvenil nessa época.
"Foi difícil, cheguei a temer que não tivesse mais a equipe, e a cidade não merecia que acabasse o basquete francano. Mas hoje estamos ganhando títulos e lutando por outros", ele disse à Folha após distribuir autógrafos a dezenas de crianças que participaram de uma ação social do evento na manhã desta quinta (7).
A criação de um conselho gestor, com a presença de empresários locais, foi o primeiro passo na reestruturação. Desde 2017, o clube adotou o nome Sesi/Franca, após firmar parceria com o Serviço Social da Indústria de São Paulo.
No mesmo ano, a varejista Magazine Luíza, empresa francana, firmou acordo para ser a patrocinadora master.
Atualmente, o clube recebe R$ 6 milhões em patrocínios e parcerias. O custo médio mensal das atividades da equipe é de R$ 500 mil.
Luis Prior, presidente do clube desde julho de 2015, diz que para sair de uma situação com poucas perspectivas e voltar a figurar na elite do basquete foi preciso persistir e enfrentar a pressão da torcida.
O público da cidade é conhecido por não apenas torcer de forma fanática, mas também entender de basquete e cobrar bom desempenho de jogadores, técnicos e dirigentes.
“Aqui não é nada diferente das torcidas [de futebol] de Corinthians e Palmeiras. Em qualquer lugar que você vá, se estiver ruim vai ser cobrado, e se estiver bom, idolatrado”, afirma o presidente.
Felizmente, para ele e para a cidade, os últimos meses têm sido de mais cumprimentos do que reclamações. Em outubro, a equipe bateu o Paulistano na decisão do estadual.
Em dezembro, veio a conquista continental sobre o Instituto, na Argentina, maior título de Franca nos últimos anos. No retorno à cidade, a recepção deu a medida da empolgação com o time.
“Só estando aqui para entender a aglomeração de pessoas. Domingo, meio-dia, sol escaldante, devia ter mais de 500 carros na carreata. Entupiu a praça, um mar de gente, coisa maluca mesmo”, conta Prior.
A cidade de 350 mil habitantes é a terra natal de Hélio Rubens Garcia, 78, ex-jogador e ex-técnico da seleção brasileira de basquete, e de seu filho Helinho, 43, que também defendeu a seleção e hoje é treinador da equipe de Franca.
Helinho assumiu o comando em 2016 e participou da retomada, mas também precisou superar críticas, principalmente no ano passado, quando o time foi eliminado nas quartas de final do NBB por Bauru (SP) após três derrotas seguidas nos playoffs.
Leandrinho, campeão da NBA com o Golden State Warriors, chegou a ser contratado no meio da última temporada, mas perdeu a fase decisiva por causa de uma lesão. Hoje ele está no Minas.
“Tenho um amigo que falava que Franca, quando estava naquele momento de baixa, era um vulcão adormecido. Se desse o start poderia voltar a entrar em erupção”, afirma o treinador. Para ele, os títulos conquistados nesta temporada vieram até mais rápido do que o esperado.
O presidente concorda. “Por mais otimista que a gente seja, está muito acima das expectativas.” Hoje Franca conta com 1.700 sócios-torcedores, um recorde para o clube.
Uma novidade desta temporada foi a inauguração do centro de treinamento Hélio Rubens Garcia, utilizado pela categoria adulta e também na base. Além disso, o clube passou a contar com um departamento para análise de desenvolvimento, com o objetivo de promover treinos individuais especializados aos atletas.
O time possui uma mescla de jogadores experientes, como o armador Elinho, 29, o ala Jimmy, 28, e os pivôs Cipolini e Hettsheimeir, ambos de 32 anos, e atletas mais jovens. Entre esses, quem mais se destaca até agora é o ala Didi, 19, formado pelo clube e que já defende a seleção brasileira.
A principal atração do Jogo das Estrelas será a partida entre Time Brasil e Time Mundo, às 14h de sábado.
Os cinco titulares da formação nacional têm alguma relação com Franca. Além de Didi e Lucas Dias, que jogam na equipe atualmente, Anderson Varejão, hoje no Flamengo, foi revelado na base francana. Já Cauê Borges, do Botafogo, e Léo Meindl, do Paulistano, nasceram na cidade.
Todos, portanto, estarão em casa no ginásio Pedro Morilla Fuentes, o Pedrocão, que volta a receber o grande evento anual do basquete brasileiro após quatro anos.
Programação do Jogo das Estrelas do NBB
Sexta (8), 19h
Jogo interligas sub-23 Brasil x Argentina, desafio de habilidades, torneios de três pontos e de enterradas
Na TV: ESPN e Fox Sports
Sábado (9), 14h
Jogo entre NBB Brasil e NBB Mundo
Na TV: Band, ESPN e Fox Sports
Local: Ginásio Pedrocão, em Franca
Ingressos: À venda pela internet (jogodasestrelas.lnb.com.br) e no ginásio Pedrocão, até as 13h de sexta (sujeito à disponibilidade). Os preços variam de R$ 10 a R$ 25