Caravana migrante se divide, e centenas deixam capital do México rumo aos EUA
A principal caravana de migrantes centro-americanos que desafia o presidente Donald Trump com sua marcha rumo aos Estados Unidos se fragmentou novamente na Cidade de México, onde centenas retomaram o caminho nesta sexta-feira (9), enquanto a maioria permanece em um abrigo, na esperança de conseguir ônibus para levá-los.
Na noite desta quinta-feira (8), decidiu-se em assembleia que a caravana sairia da capital mexicana após o fracasso do pedido para que o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados) disponibilizasse 150 ônibus para facilitar o percurso.
Dos mais de 5.500 migrantes, na maioria hondurenhos, alojados desde o final de semana em um abrigo instalado pela prefeitura, somente centenas retomaram nesta sexta sua marcha em direção à fronteira norte do México.
"Dissemos à ONU que não queremos voltar a vê-los na nossa caravana, nos enganaram", disse Noé Martínez, um hondurenho de 33 anos, que falou com a imprensa junto com outros migrantes que permaneceram no abrigo.
Este grupo, que afirma representar migrantes de suas respectivas regiões de origem, acusou a ONU de tê-los "abandonado" e acusaram a equipe do presidente eleito, Andrés Manuel López Obrador, que em alguma oportunidade lhes prometeu trabalho no México, de não cumprir com sua palavra.
"Fizemos uma solicitação de encontro com ele ou seus funcionários, mas foi rejeitada diretamente, nos disseram que não tínhamos o direito de ter uma conversa com eles", disse o também hondurenho Rubén García.
Sobre a caravana, López Obrador limitou-se a afirmar que a solicitação dos migrantes foi canalizada a funcionários que vão se encarregar de assuntos migratórios e de direitos humanos. Eleito em junho, López Obrador assume em 1º de dezembro.
Os migrantes que permanecem no abrigo instalado em um centro esportivo, onde recebem alimentos e atendimento médico, terão um encontro com "uma pessoa", que se negaram a identificar, que lhes prometeu tentar conseguir 70 ônibus para mulheres, crianças e pessoas feridas ou idosas.
Os migrantes que partiram o fizeram ao amanhecer, a grande maioria homens jovens.
"Vamos embora porque já não podemos mais ficar aqui esperando, só nos dizem mentiras de que vão nos dar ônibus e a gente passando fome, frio. Com as crianças é impossível, não há água para tomar banho", disse a hondurenha Socorro Díaz, 32, que decidiu partir com seus filhos de 4 e 7 anos.
A caravana partiu em 13 de outubro de San Pedro Sula, escapando da pobreza e da violência, e percorreu mais de 1.500 km, a maior parte a pé. É seguida de dois outros grupos com 2.000 migrantes cada um.
Estes centro-americanos estão decididos a chegar aos Estados Unidos apesar de o presidente Trump, que os acusa de protagonizar uma "invasão", advertir que não será concedido asilo a quem entrar ilegalmente.
Na fronteira com o México foram enviados 4.800 militares à espera da chegada das caravanas. O presidente americano alertou que o número pode chegar a 15 mil.
A prefeitura liberou composições do metrô para viajar sem paradas até os limites com o estado do México e ao meio-dia caminhavam sobre uma ampla avenida que leva até a autoestrada para o estado de Querétaro.
"Obrigado México!", gritavam os migrantes, enquanto se amontoavam, com crianças e idosos, nas plataformas do metrô.
Os centro-americanos aparentavam cansaço e levavam mochilas com roupas, cobertas e objetos pessoais.
"Levo roupas, os brinquedos das crianças e a foto da minha falecida esposa. É por eles que, com Deus, vou chegar à fronteira e aos Estados Unidos. Prefiro morrer a dar-lhes uma vida ruim", disse Justin Cortez, enquanto caminhava apressado, segurando pela mão seus gêmeos de dez anos. Sua esposa foi assassinada pelas "maras" (gangues) que levaram muitos migrantes a fugir.
Os migrantes se dirigem à cabine de pedágio da rodovia, por onde transitam a plena velocidade trailers carregados com toneladas de mercadorias.
Ali pedirão carona para adiantar os vários quilômetros que faltam, como fizeram nas estradas do sul do país. Um jovem morreu ao cair de um caminhão de carga, e por isso a polícia federal, que acompanha a marcha, proíbe que os migrantes subam nos veículos.
Outro dos debates foi o caminho a seguir até a fronteira norte, de 3.200 km e onde há um deserto, considerado uma armadilha fatal, com montanhas impossíveis de atravessar.
"Nós, mães que levamos filhos, dissemos que o caminho mais seguro é Tijuana. Há muitos que querem ir pelo outro lado porque não têm filhos", disse uma mulher na assembleia.
Tijuana, na costa do Pacífico, está a cerca de 2.800 km da Cidade do México, é a rota mais longa e a passagem para os Estados Unidos é um dos trajetos mais vigiados.
A rota mais curta, de 1.000 km, é para Tamaulipas, na costa do Golfo de México, mas é a mais perigosa pela presença de cartéis de drogas. Em 2010 foram assassinados ali um grupo de 72 migrantes.